Entrevista com a psicóloga María Jesús Álava, coautora do livro “A boa educação”Não pode haver liberdade sem responsabilidade, e não haverá responsabilidade se não dermos valor a quem somos.
Segundo a psicóloga María Jesús Álava Reyes, coautora do livro "A boa educação", hoje em dia é especialmente necessário ajudar os filhos a pensar, prepará-los para possíveis assédios, humilhações e abusos, facilitados pelo seu acesso, muitas vezes pouco controlado, à internet.
Nesta conversa com a Aleteia, María Jesús destaca a importância de que os pais passem mais tempo com seus filhos e os acompanhem também no uso da internet e dos videogames.
Quais são os maiores desafios da educação hoje?
O maior desafio é ajudar as crianças de hoje para que, no futuro, sejam adultos autenticamente livres, com capacidade de pensar, raciocinar, observar, com critério próprio.
Precisamos ajudar nossos filhos a pensar, para que não sejam manipuláveis. Estamos vendo que as crianças, adolescentes e jovens de hoje são mais imaturos e vulneráveis que antes.
Os pais controlam menos seu ambiente. Estamos superprotegendo demais nossos filhos, e não os preparamos para o mundo real. Eles não sabem dizer "não", seguem de forma preocupante os líderes negativos, e inclusive sofrem assédio, humilhações, abusos, sem recursos para saber se defender.
Eles têm cada vez menos habilidades na vida cotidiana, mesmo em nossa sociedade supostamente caracterizada pela comunicação; e se sentem cada vez mais sozinhos, apesar de poderem estar conectados com o mundo inteiro.
Podem passar horas no chat, respondendo e-mails e torpedos, mas são cada vez menos capazes de se relacionar com as pessoas ao seu redor.
Em muitos casos, a imaturidade se traduz em um comportamento muito mais hostil em casa. E, ao superprotegê-los e incentivar o consumismo, eles acabam não dando valor às coisas e, por conseguinte, às pessoas.
Que papel a internet tem desempenhado na educação dos filhos?
Não só a internet, mas também os videogames, as comunicações. As crianças estão obcecadas com os videogames, dedicam muito tempo aos chats, e às vezes entram em determinados espaços que não sabem controlar, postam fotos e contam coisas das quais depois se arrependem.
De cada 10 crianças, 4 podem sofrer algum tipo de assédio ou extorsão por meio da internet. Não as preparamos para se defender disso. Por isso, às vezes elas podem viver em mundos um pouco paralelos.
Antes, sabíamos mais quem eram seus amigos, o que faziam… Agora, temos um grande desconhecimento disso e, às vezes, só por meio do seu comportamento ou do seu fracasso escolar é que vemos que trocaram de amigos.
A boa educação de hoje continua sendo a de sempre?
No essencial, sim, deveria ser a de sempre, adaptada, claro, ao mundo atual; mas as crianças precisam aprender a se comportar, seguir certas normas de convivência, cortesia e sobretudo respeito aos mais velhos e às pessoas em geral; também precisam aprender a ser mais flexíveis.
O "não" também ajuda a crescer: existe a necessidade de estabelecer pautas, normas, limites para as crianças.
Os pais acompanham seus filhos suficientemente?
Um estudo que realizamos com mais de 500 crianças com dificuldades mostrou que, em sua maioria, elas passam pouco tempo com os pais; passam mais tempo com outras pessoas, e isso é um problema essencial.
Continua existindo um problema de conciliação entre a vida profissional e a familiar e esta é uma das maiores dificuldades das crianças atualmente.
Como educar pessoas livres na sociedade da comunicação?
© SergiyN
Patricia Navas - publicado em 20/11/13
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