A pílula do dia seguinte só impede que surja uma nova vida ou pode destruir um embrião já fecundado?A pílula do dia seguinte impede que surja uma nova vida ou destrói um embrião já fecundado? Segundo alguns cientistas, uma nova pílula pós-coital baseada no acetato de ulipristal só inibe a ovulação – o que derrubaria as barreiras éticas do seu uso.
É verdade que, teoricamente, haveria um prazo de 3 dias nos quais esta pílula poderia ser tomada sem o risco de inibir a nidação de um embrião já fecundado, mas, na prática, não é possível descartar este efeito abortivo. Quem explica isso em um estudo detalhado é o especialista em bioética e medicina reprodutiva Rudolf Ehmann.
A Associação Federal de Ginecologistas (BVF) e a Sociedade Alemã de Endocrinologia Ginecológica e Medicina Reprodutiva (DGGEF) afirmam que a pílula do dia seguinte ellaOne®, comercializada desde 2009, é um anticoncepcional não abortivo porque supostamente só inibe a ovulação, e não a nidação.
Assessorado por estas entidades, o cardeal Joachim Meisner autorizou, no início de 2013, que os hospitais católicos da sua diocese (Colônia, Alemanha) prescrevessem este medicamento em casos de estupro.
Agora, o estudo de Ehmann demonstra que não existe nenhuma pílula do dia seguinte que unicamente iniba a ovulação, e sim que todas – também ellaOne® – buscam, além disso, o efeito de impedir a nidação do embrião no caso de ter havido fecundação.
A substância ativa do ellaOne® é o acetato de ulipristal (AUP), que, na anticoncepção de emergência, está substituindo o levonorgestrel, uma substância com má fama, na qual se baseiam as pílulas do dia seguinte anteriores (Norlevo Pilem, Pozato, Postinor-2, Nogravid, Poslov, Dia D, Previdez-2, Evanor, Neovlar, Microvlar, Nordette, Cifarma).
O AUP é apresentado como um inibidor da ovulação, que poderia ser tomado em um período de até três dias supostamente sem risco de uma inibição da nidação.
No entanto, o novo estudo mostra que, além de inibir a ovulação, ele inibe também a nidação (ou seja, destrói a vida) e pode provocar danos ao embrião.
“Como modulador seletivo dos receptores de progesterona, invalida o efeito deste hormônio nos órgãos genitais internos da mulher, modificando a função tubular e o endométrio, de tal maneira que uma nidação do embrião é impossível”, afirma o estudo.
“Além das provas documentadas, descobrimos afirmações contraditórias dos que sustentam que o AUP unicamente inibe a ovulação, contradições que por sua vez confirmam o efeito inibidor da nidação – denuncia. Também, existem declarações inequívocas das empresas Watson e HRA, distribuidoras de ellaOne®, com respeito ao seu efeito inibidor da nidação.”
Três dias sem reservas éticas?
Com relação o prazo dentro do qual se poderia tomar a pílula sem riscos de inibir a nidação (causar a morte do embrião), a pesquisa afirma que, “na prática, não é possível delimitar estes três dias com segurança suficiente”.
Para determinar possíveis dias do ciclo nos quais esta pílula só inibiria a ovulação, seria preciso analisar cuidadosamente o ciclo ou, no mínimo, o muco vaginal, para delimitar a fase fértil. Além disso, uma ultrassonografia vaginal poderia determinar o tamanho folicular ou de um possível corpo lúteo e a espessura endometrial, bem como um rápido exame de progesterona na urina. Mas tudo isso não é realista, menos ainda depois de um estupro.
“Como é que pode saber um médico de urgências nestas circunstâncias qual é o período de tempo correto e justificável? Para se assegurar, dispensará o AUP já que, segundo Brache et al., no caso de um tamanho folicular superior a 18, a expulsão do folículo atrasar-se-ia ou não se produziria com uma probabilidade de 60%.”
E acrescenta: “É possível que na prática esta percentagem relativamente alta motive o médico a receitar o AUP, sem emprestar a devida atenção à inibição da nidação em 40% dos casos de uma ovulação de escape”.
Difusão da pílula do dia seguinte
O estudo também oferece dados interessantes sobre a frequência anual de consumo de pílulas pós-coito, entre eles o número de 12 milhões de pílulas do dia seguinte em 2012.
As indicações das instituições alemãs que assessoraram a Igreja no país se baseavam em um estudo realizado por Kirstina Gemzell (et al), presidente há 4 anos da Federação Internacional de Profissionais do Aborto e Contracepção (FIAPAC).
Para o responsável do novo estudo, “evidentemente, Rabe et al. conheciam o efeito inibidor da nidação do AUP quando publicaram que este fármaco unicamente inibiria a ovulação. Portanto, neste contexto, esta tese deve interpretar-se como engano intencional ao cardeal Meisner e à Conferência Episcopal Alemã”.
Em sua opinião, “isto é tanto mais grave porque estas tergiversações semânticas não se referem a objetos inanimados, mas à existência ou não de uma vida humana não nascida”.
“É difícil de entender que se formulem afirmações indiferenciadas a respeito que contradizem todos os conhecimentos científicos – afirma. No entanto, a compreensão é mais fácil, se se tem em conta o interesse de alguns agrupamentos ideológicos e dos fabricantes, que consiste em eludir qualquer debate ético e vender tantas pílulas do dia seguinte como seja possível.”
“Até hoje não existe na realidade nenhuma pílula do dia seguinte que unicamente iniba a ovulação. Infelizmente, informou-se o cardeal Meisner e os bispos alemães de forma incorreta a respeito”, conclui o estudo.
O que é o acetato de ulipristal (AUP)?
Segundo o estudo, o AUP é um modulador seletivo dos receptores de progesterona, sucessor da mifepristona (RU 486).
Para o especialista, “o mero feito de uma eficácia durante um período de tempo de até 120 horas depois do coito é uma prova de que não sozinho explica-se pela inibição da ovulação. Também, o maior grau de segurança também é um indício do seu efeito inibidor da nidação, já que a taxa de gravidez caiu, com o AUP, de 5,5% a 1,8%, e, com o LNG, se reduziu de 5,4 % a 2,6 %”.
O Ulipristal, como modulador seletivo dos receptores de progesterona, invalida o efeito deste hormônio nos órgãos genitais internos da mulher, modificando a função tubular e o endométrio de tal maneira que uma nidação do embrião é impossível.
Como explica o novo estudo, “a supressão do efeito da progesterona por parte do AUP tira a base de vida ao embrião, já que sem a progesterona ou o seu efeito não há nenhuma nidação e não se pode manter a gravidez”.
Até a empresa HRA-Pharma, fabricante do ellaOne®, que contém AUP, confirma este fato fundamental para a fisiologia natural: “Informação de fundo sobre o acetato de ulipristal: a progesterona desempenha um papel decisivo na procriação de muitas espécies. Intervém no controlo da ovulação, nidação e a manutenção da gravidez”.
O mecanismo de ação do AUP em relação à inibição da ovulação e nidação afeta o ovário, trompas e endométrio, como explica o estudo:
“1) Ovário: inibição ou atraso da ovulação: efeito agonístico sobre os receptores da progesterona. Devido à retroalimentação negativa reduz-se a secreção e evita-se o bico da HL (eixo hipotálamo-hipófise). É possível que se iniba a ovulação pelo efeito direto sobre o ovário.
2) Trompas: bloqueio dos receptores da progesterona nas trompas, que leva a uma desregulação da motilidade das trompas e da função secretora (dessincronização destes processos), que tem como consequência um transporte excessivamente rápido do embrião e mudança na composição da secreção das trompas.
3) Endométrio não preparado para a nidação, porque o bloqueio dos receptores PR atrasa ou impede a sincronização endometrial (falta de concordância em fases): impede-se a maduração, quer dizer, a transformação secretora do endométrio.”
Por outro lado, ainda não se demonstrou a segurança e eficácia desta nova substância ativa em menores de idade, mas isso não é mencionado na bula de ellaOne®, que é prescrita também a adolescentes.
Finalmente, o estudo recorda que a contracepção pós-coital não reduziu o número de abortos.
Há novas “pílulas do dia seguinte” não abortivas?
© DR
Patricia Navas - publicado em 09/01/14
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