No retorno a Roma, em conversa com os jornalistas, o Papa ressaltou momentos marcantes da viagem à Terra Santa
No avião que o trouxe de volta ao Vaticano, ontem, o Papa Francisco conversou durante quase uma hora com os jornalistas que o acompanharam na Terra Santa.
Abusos contra menores
“Neste momento, há três bispos sob investigação e um deles, já condenado, tem a pena em estudo. Não há privilégios neste tema dos menores. Na Argentina, chamamos os privilegiados de ‘filhos de papai’. Pois bem, sobre este tema não haverá filhos de papai. É um problema muito grave. Um sacerdote que comete um abuso, trai o corpo do Senhor. O padre deve levar o menino ou a menina à santidade. E o menor confia nele. E ao invés de levá-lo à santidade, abusa. É gravíssimo. É como fazer uma missa negra! Ao invés de levá-lo à santidade, o leva a uma problema que terá por toda a vida. Na próxima semana, no dia 6 ou 7 de julho haverá uma missa com algumas pessoas abusadas, na Santa Marta, e depois haverá uma reunião, eu com eles. Sobre isto se deve prosseguir com tolerância zero.”
Celibato dos padres
“Há padres católicos casados, nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida, que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, há sempre uma porta aberta.”
Eventual renúncia
“Eu farei o que o Senhor me dirá de fazer. Rezar, buscar a vontade de Deus. Bento XVI não tinha mais forças e, honestamente, é um homem de fé, humilde como é, tomou esta decisão. Setenta anos atrás os bispos eméritos não existiam. O que acontecerá com os Papas eméritos? Devemos olhar para Bento XVI como uma instituição, abriu uma porta, a dos Papas eméritos. A porta está aberta, se haverá outros ou não, somente Deus sabe. Eu creio que um Bispo de Roma, ao sentir que lhe faltam forças, deva fazer as mesmas perguntas que o Papa Bento fez.”
Ortodoxos
“Com Bartolomeu falamos de unidade, que se faz em caminho, jamais poderemos fazer a unidade num congresso de Teologia. Ele confirmou-me que Atenágoras realmente disse a Paulo VI: ‘vamos colocar todos os teólogos numa ilha e nós prosseguiremos juntos’. Devemos nos ajudar, por exemplo, com as igrejas, inclusive em Roma, onde muitos ortodoxos usam igrejas católicas. Falamos do concílio pan-ortodoxo, para que se faça algo sobre a data da Páscoa. É um pouco ridículo: ‘Quando ressuscita o seu Cristo? O meu na semana que vem. O meu, ao invés, ressuscitou na semana passada’. Com Bartolomeu falamos como irmãos, nos queremos bem, contamos as dificuldades do nosso governo. Falamos bastante da ecologia, de fazermos juntos um trabalho conjunto sobre este problema.”
Outros temas
Francisco falou ainda da alegada investigação sobre um desvio de 15 milhões de euros dos fundos do Instituto para as Obras de Religião, em que estaria envolvido o antigo Secretário de Estado do Vaticano.
“A questão desses 15 milhões está ainda em estudo, não é claro o que aconteceu”, afirmou.
O Papa disse que quer “honestidade e transparência” na administração financeira do Vaticano e que a nova Secretaria para a Economia, dirigida pelo Cardeal Pell, vai “levar por diante as reformas que foram sugeridas” por várias comissões para evitar “escândalos e problemas”. Nesse sentido, recordou que cerca de 1,6 mil contas foram fechadas no IOR nos últimos tempos.
Francisco confirmou que, além da viagem à Coreia do Sul em agosto, voltará à Ásia em janeiro de 2015, para visitar o Sri Lanka e as regiões afetadas pelo tufão nas Filipinas. O Papa mostrou-se preocupado com a falta de liberdade religiosa neste continente, falando num número de “mártires” cristãos que supera os dos primeiros tempos da Igreja.