Uma arrepiante entrevista com uma das vítimas, mãe de dois filhos, recentemente libertada
Eles são um grupo de homens à margem da lei. Durante dias, eles vigiaram às escondidas uma casa habitada por dois jovens australianos. Observaram todas as entradas e estudaram os hábitos dos moradores. A oportunidade perfeita aconteceu num dia em que os dois australianos saíram juntos. Foi quando os homens aproveitaram para agir.
Dois deles invadiram a casa, enquanto três ficaram de fora para dar cobertura. O mais rapidamente que puderam, eles levaram embora nada menos que sete mulheres de dentro da casa. Primeiro, os homens as levaram para uma casa próxima, onde as mantiveram escondidas; no dia seguinte, levaram-nas para a Turquia, cruzando clandestinamente a fronteira.
O que eles fazem é quase sempre a mesma coisa: invadir e levar embora mulheres e crianças.
O chefe do bando tem experiência em agir na clandestinidade desde os 18 anos, quando, ilegalmente, viajava para a Síria para poder fazer seu trabalho como vendedor. Sua ousadia lhe valeu o apelido de “Pai dos Corajosos”. Os grupos que ele comanda atualmente seguem táticas de guerrilha e, por isso mesmo, são formados por três a sete membros em cada operação. Eles vivem escondidos em refúgios seguros, e, para agir, contam com uma ampla rede de apoio de moradores da região, que também atuam por baixo dos panos.
As autoridades da região os caçam implacavelmente e os consideram “inimigos de Deus”. Faz poucos meses, dois homens do bando foram capturados na cidade síria de Raqqa e executados publicamente. Suas cabeças, decepadas, ficaram expostas em uma rótula da cidade. Mesmo assim, eles não pararam de agir, sempre fazendo a mesma coisa: eles invadem casas e levam embora mulheres e crianças.
Uma dessas mulheres se chama Samira e foi entrevistada pelo jornal britânico The Guardian. Ela tinha sido sequestrada quando estava grávida, junto com outro filho, de dois anos de idade. O novo bebê foi dado à luz em pleno cativeiro. Samira, de 21 anos, tinha sido raptada no Iraque e levada para Raqqa, onde seus raptores a venderam como um objeto. Um miliciano saudita passou a ser seu novo proprietário.
Passadas algumas semanas, o saudita exigiu um resgate da família da moça, que pagou a primeira metade. O saudita pegou o dinheiro e resolveu continuar mantendo Samira como sua propriedade.
Foi então que o pai da jovem entrou em contato com o “Pai dos Corajosos”.
O “Pai dos Corajosos” passou a investigar o possível local em que Samira e seus filhos estavam sendo mantidos como reféns. Em cerca de um mês, após contatos telefônicos com o saudita, ele tinha informação suficiente para identificar o endereço e estudar a rotina da casa. Certo dia, sabendo que a jovem estava sozinha na casa, o “Pai dos Corajosos” falou com ela própria por telefone e lhe passou instruções. Samira conseguiu sair com seus dois filhos e embarcar em um carro que o “Pai dos Corajosos” tinha deixado à sua espera. Samira finalmente pôde voltar para o aconchego da família e dar sua entrevista ao jornal The Guardian, na qual ela declara: "Não dá para explicar o quanto é importante o trabalho do ‘Pai dos Corajosos’ e do seu bando!".
Cerca de 200 mulheres da etnia yazidi, como Samira, foram resgatadas pelos grupos liderados pelo “Pai dos Corajosos” na Síria. Elas tinham sido escravizadas pelas autoridades do autoproclamado Estado Islâmico, em cujas garras sofreram estupros, espancamentos e chegaram a ser marcadas com ferro em brasa.
O “Pai dos Corajosos” também é iraquiano e yazidi. Diante do horror do seu povo massacrado pelos fanáticos homicidas do Estado Islâmico e da inércia da comunidade internacional, o “Pai dos Corajosos” decidiu agir por conta própria e organizar seus grupos clandestinos de libertadores de mulheres e crianças.
Foi assim que, entre dezenas de outras operações, eles invadiram a casa dos dois australianos alistados no Estado Islâmico (EI) em Raqqa e resgataram mais sete mulheres escravas do terror. É assim que eles continuarão agindo, enquanto tiverem vida, coragem e fé.