“Aquele que carrega Cristo”Muito pouco de histórico se sabe sobre a vida e a morte de São Cristóvão, mártir que protagoniza várias lendas medievais. A mais famosa delas vem da “Legenda Áurea“, uma compilação de histórias de santos popularizada no século XIII.
De acordo com esse relato, um rei pagão do Oriente teve um filho graças às preces da esposa. O bebê, chamado Reprobus, foi consagrado ao deus Apolo e, ao crescer, tornou-se um jovem extraordinariamente robusto e forte. Decidido a trabalhar somente para homens igualmente bravos e fortes, ele acabou servindo a um grande rei e a um indivíduo que se dizia o próprio Satanás, mas acabou achando que faltava coragem a ambos: afinal, o primeiro tinha medo do diabo e o outro se assustava com a cruz. Depois, encontrou um eremita que o educou na fé cristã e o batizou. Reprobus, porém, não quis fazer jejum nem orações a Cristo, mas, a pedido do seu catequista, aceitou ajudar as pessoas a cruzar um rio caudaloso.
Certa vez, ele ajudou uma criança a atravessar o rio carregando-a nas costas. Mas a criança ficava cada vez mais pesada e Reprobus tinha a sensação de que o mundo inteiro estava sobre os seus ombros. Terminada a travessia, a criança revelou que era o Criador e Redentor do mundo, sobrecarregada ela própria com o peso de todos os pecados da humanidade. Cristo também ordenou que Reprobus fixasse o seu bastão na terra. Na manhã seguinte, havia crescido no mesmo local uma grande palmeira, que serviu como sinal para a conversão de muitos. Reprobus passou a ser chamado de Cristóvão, que significa “aquele que carrega Cristo” (em grego, Χριστόφορος, ou Christóphoros). O rei da região, irritado com a história, mandou prender e decapitar Cristóvão.
A lenda de São Cristóvão tem origem grega no século VI e, em meados do século IX, já tinha se popularizado na França. Seu nome, originalmente dotado de um sentido espiritual, como “aquele que carrega Cristo no coração”, foi ganhando a interpretação mais literal e lendária por volta dos séculos XII e XIII.
Os estudos sobre a verdadeira história de Cristóvão levam a crer que Reprobus tenha vivido durante a cruel perseguição promovida pelo imperador Décio ou pelo imperador Diocleciano contra os cristãos no Império Romano. Ele teria sido preso e martirizado pelo governador de Antioquia. Segundo o historiador David Woods, os restos mortais de Cristóvão devem ter sido levados para Alexandria.
Na antiguidade e na Idade Média, muitos cristãos eram canonizados por aclamação popular. A vida e mesmo a existência histórica de muitos deles se misturava com lendas, umas originais, outras baseadas na mitologia pagã. Em 1969, a Igreja fez um vasto exame da historicidade dos santos do seu calendário e retirou dele todos os que não contavam com evidências suficientes de existência e santidade. Cristóvão foi um dos santos que teve seu culto restrito a calendários locais, embora fosse muito popular especialmente entre os viajantes, de quem é considerado padroeiro. A devoção popular também o declara padroeiro dos motoristas.