A dose certa de honestidade emocional perante os filhos pode ser melhor do que colocar um sorriso amarelo no rostoTodo pai e toda mãe conta mentiras brandas. Ilusões inofensivas como deixar os filhos acreditarem no Papai Noel ou na fada dos dentes, porque isso lhes traz alegria (e esperamos que os incentive a se comportarem melhor nas férias). Existe ainda um outro tipo de mentira que os pais contam com as melhores intenções: as emocionais. E a maioria dos adultos provavelmente nem sequer percebe que está fazendo isso.
Quando algo perturbador acontece, não é incomum os pais fingirem que está tudo bem. É um desses instintos de proteção dos filhos. Talvez você queira chorar ou ficar com raiva mas, em vez disso, respira profundamente e se recompõe antes de enfrentar os filhos. A lógica é clara: não há necessidade de sobrecarregar os filhos com seu dia difícil ou assustá-los com a sua cara vermelha ou olhos marejados. Bons pais são super-heróis e modelos, que devem proteger seus filhos de momentos conturbados. Mas deveriam?
Esconder os sentimentos de tristeza ou frustração pode ser prejudicial
Um estudo recente da Universidade de Toronto descobriu que os pais que escondem as emoções negativas, enquanto reforçam emoções positivas ao falar com seus filhos, “experimentaram menor autenticidade, bem-estar emocional, qualidade do relacionamento e capacidade de resposta às necessidades dos filhos”.
Em outras palavras, quando colocamos aquele sorriso e escondemos os sentimentos de tristeza ou frustração, a fim de dar aos nossos filhos um lar harmonioso, realmente estamos prejudicando todos – inclusive os adultos. O estudo mostra que os pais que esconderam as emoções de seus filhos fizeram eles se sentir pior, porque aqueles sorrisos e elogios falsos os fizeram parecer mentirosos mais tarde. E mentir para os nossos filhos (até mesmo a mentira inofensiva) não é muito bom.
Mas, o mais importante, os pais precisam pensar sobre o que isso significa para os filhos. Quando as crianças não são expostas a fortes emoções, não recebem uma visão realista da vida. De fato, outros estudos indicam que quando as crianças veem os pais se machucarem, ou até mesmo chorar, isso ajuda a desenvolver a empatia.
Quando as crianças percebem a angústia de seus pais, respondem a ela
“A capacidade de perceber o sofrimento dos outros, e ser movido por ela, pode ser um componente crítico do que é chamado de comportamento pró-social, ações que beneficiam os outros: indivíduos, grupos ou a sociedade como um todo”, disse Perri Klass, doutor em medicina e professor na Universidade de Nova Iorque.
Quando as crianças percebem a angústia de seus pais e respondem a ela, essa situação não só as ajuda a sentir empatia; elas também são envolvidas no ato de ouvir ou oferecer um abraço ou outro gesto gentil a seus familiares, ajudando-os a se sentir melhor. Certamente isso é algo que entendemos como adultos. Quando um amigo compartilha uma dificuldade e oferecemos um ouvido atento e um abraço solidário, todos nós nos sentimos melhor. E o mesmo acontece com as crianças.
Mas aqueles de nós que já desmoronaram na frente dos filhos e viveram para contar a história sabem que os benefícios não param por aí. Porque, às vezes, quando você perde a frieza, isso leva a uma conversa esclarecedora com seus filhos.
Conceder o perdão ou uma segunda chance: lição importante
Como mãe de três filhos, eu experimentei isso. Sim, perdi minha compostura e gritei com meus filhos. Nesses momentos, não sou o modelo de felicidade ou calma. Mas acabo por ser o modelo da arte das desculpas. Por mais horrível que me sinta após a explosão, a doçura dos momentos quando ofereço de coração um pedido de desculpas, mostra aos meus filhos como estou arrependida. Conceder o perdão ou uma segunda chance, e entender que todos nós cometemos erros, são lições importantes na vida de uma família.
Eu também usei essas explosões para ensinar aos meus filhos algo sobre os dias ruins, que todos nós temos, mas superamos. Nos momentos que meus filhos me viram chorar ou apenas me sentir triste, isso acabou nos levando a conversar sobre nossa necessidade, como seres humanos, de percorrer algumas situações difíceis, mas também nos levou a falar sobre a esperança (e verdade) de que a situação ruim pode melhorar.
Dito isso, há uma linha a ser estabelecida. Pois os benefícios de ser “emocionalmente honesto” com as crianças não significa necessariamente compartilhar cada última emoção ou todos os detalhes com elas.
De acordo com Beth Proudfoot, terapeuta familiar e educadora em San Jose, Califórnia, e co-autora do livro The Magic of Positive Parenting, as crianças tendem a pensar que as nossas lágrimas estão sempre relacionadas a elas. Portanto, temos de ter cuidado e clareza sobre as razões das nossas emoções.
Especialistas também advertem sobre compartilhar muitos detalhes. Em vez disso, oferecer aos nossos filhos uma razão geral, lembrando-lhes que não é sobre eles, e assegurando-lhes que tudo ficará bem (e que chorar é bom); isso ajuda as crianças a entender – e se relacionar.
E, afinal, é do que se trata nossas emoções. Elas são destinadas a ajudar na conexão com nossas famílias e com o mundo que nos cerca.