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“Arquivo X” continua sua busca de Deus

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Paul Asay - publicado em 11/03/16
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O criador da série, Chris Carter, diz que projetou Scully para ser um personagem religioso desde o inícioQualquer pessoa familiarizada com Arquivo X sabe qual personagem da série acredita verdadeiramente em Deus. O cartaz em seu escritório diz tudo.

“Eu quero acreditar”, lê-se no cartaz. Foi no escritório do agente do FBI Fox Mulder (interpretado por David Duchovny) que Arquivo X estreou na Fox em 1993. Mulder está de volta – estava no chão desta vez – onde ele e sua parceira de longa data Dana Scully (Gillian Anderson) retornaram neste 24 de janeiro.

Durante o longo e sempre tão estranho funcionamento da série, foi Mulder quem acreditou firmemente em tudo, desde as invasões alienígenas, monstros e conspirações governamentais. Tem sido sempre Mulder aquele que crê, e Scully puxa-o e força-o a olhar para os frios e duros fatos do caso investigado.

Scully tem sido sempre a voz da razão que equilibra a maluquice de Mulder. Uma médica qualificada e uma cientista dedicada, ela está disposta a recusar qualquer aspecto de fé cega.

Enquanto Mulder pode ser o motor que impulsiona Arquivo X, Scully tem servido como alma. Enquanto seus parceiros vão à frente, ela recua – questionando, considerando. Ela é o link entre o nosso mundo cotidiano e a fantasia da série. E é a fé católica de Scully uma das coisas que a motiva. Você poderia até argumentar que ela é uma substituta do criador do Arquivo X, Chris Carter.

“Eu cursei Física Teórica no Instituto Kavli na Universidade da Califórnia”, disse Carter ao The Guardian em 2008, antes do lançamento do filme do Arquivo X. “Muitos dos cientistas eram ateus, e pensei que era interessante porque eles estavam falando sobre algumas das mais belas ideias que eu já encontrei. Quer dizer, algo verdadeiramente poético. E pensei exatamente o oposto. Vi como a ciência tenta explicar Deus, enquanto eles vêem como a ciência tenta explicar a verdade. Já que pode ser a mesma coisa, acho que este filme é em alguns aspectos sobre isto: ciência e fé”.

Em uma entrevista a Salon em 2000, Carter disse que projetou Scully para ser um personagem religioso desde o início. “A coisa mais difícil de conciliar é ciência e religião”, ele disse. “Então, aquela cruz que ela usa, que estava lá desde o episódio piloto, é muito importante para uma personagem que está dividida entre seu caráter racional e seu lado espiritual”.

“A série é basicamente uma série religiosa”, Carter acrescentou. “É sobre a busca de Deus. Você sabe, ‘a verdade está lá fora’. Disso que se trata”.

Fãs de Scully que já muito apreciavam sua natureza espiritual não podem ver seus lados ciêntífico e espiritual como estando em guerra, tanto quanto estando em equilíbrio. Desde o tempo de Santo Agostinho, afinal de contas, os católicos há muito expressam um profundo apreço pela ciência e o conhecimento. Milagres são examinados e, às vezes, desmascarados, usando a ciência rigorosa e o estudo dos detalhes – algo que Scully provavelmente aprecia.

Mas ela, como a Igreja, por vezes, deixa a porta aberta para “possibilidades extremas”, como Mulder diria. No episódio da quinta temporada “All Souls”, Scully diz a um padre: “Por mais que eu tenha minha fé, padre, eu sou uma cientista, sou treinada para analisar evidências. Mas a ciência só nos ensina como, não por quê”. E conforme a série avançava, sua fé se torna cada vez uma parte mais integral de sua personagem.

Um bom exemplo pode ser encontrado no episódio da terceira temporada “Revelations”, onde ela e Mulder estão investigando o assassinato de falsos estigmatizados – pessoas fingindo feridas em suas mãos e pés para convencer seus seguidores de sua santidade. Mas durante o curso de sua investigação, eles também têm de proteger um menino especial que também exibe os estigmas e não parece estar fingindo.

Depois desse caso, Scully volta a se confessar depois de muitos anos. “Estou com medo”, ela admite, “que Deus esteja falando e ninguém esteja escutando”.

Mas em Arquivo X, assim como em nossa própria caminhada de fé, nem sempre tudo é claro e óbvio. Como Scully, a vida inclina-se entre fé e ciência.

Ao longo da terceira e quarta temporadas, por exemplo, Scully sofre de câncer – resultado da remoção de um microchip que havia sido misteriosamente implantado em seu pescoço. Mulder defende a instalação de um chip alienígena semelhante, na esperança de que isso irá remover a doença. Mas Scully também retorna à sua fé, orando com um padre que ela rejeitara anteriormente. Quando a doença desaparece – milagrosamente, alguns diriam – a razão para o seu desaparecimento é uma questão de conjectura, escreve Amy M. Donaldson em seu livro We Want to Believe: Faith and Gospel in the X-Files:

“Foi o chip que a curou? Ou foi um milagre, em resposta à sua oração? Como Mulder responde à pergunta do Diretor Assistente Skinner sobre esse ponto, ‘Eu não sei. Eu acho que nunca vamos saber’. Mas uma questão mais profunda é: e se fosse ambos… Se o chip é a cura, isso significa que não houve nenhuma intervenção divina? Ou o fato de que Mulder tenha encontrado o chip poderia ter sido uma resposta à oração?”

Os espectadores podem agora acompanhar a fé de Scully na Fox novamente. Ela está trabalhando em um hospital católico durante o primeiro episódio (“My Struggle”), e ela diz que está ajudando a fazer o “trabalho de Deus” – ajudando a criar cirurgicamente orelhas para crianças que nasceram sem elas. E no quarto episódio, “Home Again”, ela chora ao lado da cama de sua mãe que está morrendo. “Por favor, mamãe, não vá para casa ainda”, ela diz.

Scully não tem uma fé inabalável. Ao longo dos anos, ela sofreu. Ela questionou. Ela duvidou. E, no entanto, ao longo de tudo, seu anseio por uma verdade maior permanece – um desejo, eu acho, que é encontrado na maioria de nós. Ela quer acreditar. E nós também.

Paul Asay é crítico de cinema de Plugged In e escreve para uma variedade de sites e publicações, incluindo Time, The Washington Post e Beliefnet.com. Ele é autor ou co-autor de vários livros, incluindo Burning Bush 2.0: How Pop Culture Replaced the Prophet.

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