As indicações deste ano são uma sugestão de que Hollywood admite o quanto a religião importa?
Hollywood divulgou os indicados ao Oscar, e a imprensa ficou movimentada e surpresa. Onde está Amy Adams? Onde está Martin Scorsese? Nenhum amor para Deadpool? Meryl Streep novamente?!
Embora não vejamos uma repetição da controvérsia #OscarsSoWhite (Oscar só para brancos) que abalou os prêmios nos últimos dois anos, as indicações deram aos amantes do cinema muita coisa para falar.
Mas um aspecto em particular chamou a minha atenção este ano: como este Oscar lida com a espiritualidade.
A maioria dos filmes não entra na religião. Os filmes são um negócio, e poucos cineastas querem arriscar perder sua audiência, inserindo referências abertas à religião.
Mas, ironicamente, mesmo que o mundo se torne mais secular, alguns cineastas parecem mais dispostos a lidar com a fé do que nunca. E enquanto suas representações de religião nem sempre são positivas – na verdade, às vezes é exatamente o oposto –, apenas reconhecer que a religião é importante, e que isso pode ser um grande motivador na vida das pessoas, é refrescante.
Tomemos, por exemplo, Hacksaw Ridge (Até o Último Homem), que leva seis indicações, incluindo de Melhor Fotografia. Desmond Doss (Andrew Garfield, indicado para Melhor Ator) se junta ao exército na Segunda Guerra Mundial, mas por causa de suas convicções religiosas, se recusa a carregar uma arma. Apesar da tremenda pressão e às vezes abuso, ele se mantém fiel à sua fé e chega a ganhar a Medalha de Honra – tudo sem apertar o gatilho.
É um filme de guerra. Mas, se tirássemos a brutalidade do filme – sem dúvida necessária neste contexto –, talvez pudéssemos pensar que é um filme cristão, tão claras são as suas mensagens. Eu não sei se já vi um filme como este intrinsecamente espiritual como Melhor Filme desde que o filme Life of Pi (As Aventuras de Pi) foi nomeado em 2013, e eu aposto que não houve um filme com uma forte mensagem cristã indicado nos últimos 40 anos.
Outro candidato a Melhor Fotografia com um tema espiritual é Fences (Um Limite entre Nós), que mostra um mundo distante de Até o Último Homem. Ele também tem seus momentos brutais, mas as feridas infligidas aqui são principalmente emocionais. Troy Maxson (interpretado por Denzel Washington, indicado ao Oscar) é um catador de lixo que trabalha duro, fazendo o seu melhor para ganhar a vida e talvez um pouco de felicidade com sua esposa, Rose (Viola Davis, também indicada ao Oscar). Mas ele é um homem duro, às vezes egoísta, que trai sua esposa e não consegue descobrir como amar seus próprios filhos.
Um Limite entre Nós fala sobre relacionamentos – o relacionamento de Troy com Rose, seus filhos e seu irmão deficiente mental, Gabriel. Mas um sentimento de fé sustenta toda a história, desde a devida devoção de Rose à igreja até a insistência de Gabriel, que diz ter visto o nome de Troy escrito no Bom Livro do Céu. E realmente, o filme depende da alma de Troy – os melhores anjos de sua natureza brigando contra suas sombras mais escuras e mais profundas. E quando Gabriel puxa sua trombeta sempre presente no final do filme – uma trombeta que ele carrega para usar no Dia do Juízo Final – as nuvens vão embora e o sol brilha. O filme termina com uma mensagem vinda do céu, que fala de esperança e redenção.
Outros filmes que concorrem ao Oscar de Melhor Fotografia oferecem seus próprios acenos à fé. As mulheres de Hidden Figures (Estrelas Além do Tempo) vão à igreja e rezam na mesa de jantar. Em Manchester by the Sea (Manchester à Beira-Mar), Patrick (interpretado por Lucas Hedges, indicado ao Oscar) tem um almoço incômodo com sua mãe distante e seu novo “companheiro”, ambos aparentemente cristãos fervorosos “nascidos de novo”. Não é o retrato mais positivo da fé nos filmes, mas é interessante: depois do almoço, o guardião de Patrick, Lee (interpretado por Casey Affleck, indicado ao Oscar) o lembra que eles, sendo católicos, também são cristãos.
A lista continua. Eu já escrevi sobre as dúvidas sobre a natureza de Deus em Jackie, que foi indicado para dois Oscar: Melhor Atriz (Natalie Portman) e Melhor Trilha Sonora Original. O filme Silence (Silêncio) de Scorsese foi indicado para Melhor Fotografia e fala sobre a religião desde a abertura de créditos até o seu fechamento. Captain Fantastic (Capitão Fantástico), onde o ator Viggo Mortensen foi indicado ao Oscar de Melhor Ator, poderia ser visto como contra, em parte, a religião organizada. Outros roteiros de filmes desde Lion (Lion – Uma Jornada para Casa) até Moonlight (Moonlight: Sob a Luz do Luar) foram temperados com sutis referências à fé, sugerindo que a fé era importante para alguns de seus personagens.
Toda essa religião no Oscar sugere que os cineastas estão começando a entender o que a maioria de nós já sabe: religião importa. O que pensamos sobre Deus, e como vemos nossa relação com Ele, molda nossas vidas e molda nossas almas. A fé nos move como nada mais.