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Os Papas do século XX que pensaram em renunciar

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Aleteia Brasil - publicado em 29/08/17
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Bento XVI conhecia os precedentes: “Coisa muito sábia, que todos os Papas deveriam considerar”O beato Paulo VI foi eleito Papa em 1963, em pleno Concílio Vaticano II, e permaneceu como pontífice até a sua morte em 1978, o famoso “ano dos três Papas” (ele próprio, João Paulo I, que faleceu pouco mais de um mês após ser eleito, e São João Paulo II, cujo longo pontificado se estenderia até 2005).

Apesar de ter estado na Cátedra de Pedro até falecer, Paulo VI tinha se preparado para a eventualidade de renunciar: ele escreveu, de próprio punho, duas cartas de renúncia ao pontificado que deveriam ser divulgadas se ele viesse a perder, durante um longo período de tempo, as capacidades de conduzir a Igreja.

Quem relatou ao mundo a existência dessas cartas foi, na semana passada, o vaticanista italiano Andrea Tornielli, jornalista do periódico italiano La Stampa e diretor do serviço informativo especializado Vatican Insider.

O cardeal Giovanni Battista Re, prefeito emérito da Congregação para os Bispos, confirmou que as duas cartas existem mesmo e que São João Paulo II chegou a mostrá-las a ele:

“Eram duas cartas escritas a mão, não me lembro exatamente da data, mas não eram do último período de vida do Papa Montini. Parece que eram do final dos anos 1960 ou 1970. Paulo VI estava preocupado com uma possível incapacidade no futuro, com algum grave impedimento que não lhe permitisse mais realizar o seu ministério. E, por isso, ele quis ser cuidadoso”.

A primeira carta apresentava a renúncia e a segunda pedia ao cardeal Secretário de Estado que insistisse para que os cardeais aceitassem a primeira.

Em artigo de 26 de agosto de 2017, Andrea Tornielli recorda que, em novembro de 1967, o Papa Paulo VI tinha sofrido uma cirurgia de próstata com anestesia total numa sala cirúrgica improvisada no próprio quarto, dentro do Vaticano. Tornielli considera:

“O que aconteceria se, por exemplo, ele não tivesse acordado, permanecendo em coma durante um longo período? Para tentar resolver esse dilema, diante da maior longevidade das pessoas devido às descobertas da medicina, o Papa decidiu se pronunciar mediante duas declarações assinadas, que só deveriam ser publicadas se ele não fosse capaz de manifestar a própria vontade”.

O contexto, portanto, é diferente daquele que levou o Papa Bento XVI a renunciar em 2013: ele mantinha pleno domínio das faculdades intelectuais e da liberdade de decisão, mas considerou que a sua idade e a sua falta de forças físicas impediriam o trabalho esperado de um Pontífice nas circunstâncias atuais do mundo.

A propósito: Bento XVI sabia da existência das cartas de Paulo VI. Em outubro de 2003, quando ainda era cardeal, ele chegou a comentar:

“Esta é uma coisa muito sábia, que cada Papa deveria fazer”.

Quem testemunhou esta cena foi o monsenhor Ettore Malnati, que era amigo pessoal do pe. Pasquale Macchi, secretário particular de Paulo VI.

A possibilidade de renúncia de um Papa é prevista pelo Código de Direito Canônico desde 1917. O atual Papa Emérito foi o primeiro desde então a renunciar efetivamente, mas a consideração de renúncia por parte de Paulo VI não foi o único precedente.

Tornielli relatou que Pio XI também havia falado dessa possibilidade em caso de doença e que Pio XII planejava o mesmo se fosse deportado pelos nazistas. Foi neste sentido, aliás, que Pio XII chegou a dizer: “Se me sequestrarem, terão o cardeal Pacelli, mas não terão o Papa“. Eugenio Pacelli era o nome de batismo de Pio XII.

O próprio São João Paulo II não mostrou à toa aquelas duas cartas de Paulo VI ao cardeal Giovanni Battista Re: ele sofria do mal de Parkinson e, vendo a piora da sua saúde, amplamente repercutida pela mídia mundial, também ponderou a possibilidade de renunciar se fosse necessário.

Até o Papa Francisco já disse, explicitamente e em várias ocasiões, que a possibilidade da renúncia vale para ele também. O Santo Padre chegou a se mostrar agradecido a Bento XVI por ter implantado a figura do Papa Emérito.

 

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