“Muitas pessoas deixam o islamismo e abraçam o cristianismo”, declara o sacerdote, ele próprio convertido do islã para Cristo. Mas o preço…O pe. Paul-Elie Cheknoun esteve em Roma no dia 19 de março deste ano, festa de São José, para participar da Noite de Testemunhos organizada pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
De família muçulmana da Argélia, o pe. Cheknoun se converteu ao cristianismo na década de 1990 e foi ordenado sacerdote nos anos 2000, fazendo parte da Fraternidade Missionária João Paulo II e trabalhando atualmente em seu próprio país natal. Ao falar sobre os seus compatriotas, ele conta que muitos muçulmanos, tanto na Argélia quanto entre os que migram de lá para a França, continuam se convertendo a Cristo até hoje, apesar das dificuldades persistentes e desafiadoras – entre elas, o risco de morte.
A entrevista
Você deu um passo corajoso ao se converter ao cristianismo, em meio a muitas dificuldades. O seu caso é isolado?
Pe. Cheknoun – Não. Muitos muçulmanos se tornam cristãos, na Argélia, que é terra islâmica, e na França também [nota: a França é o país europeu que mais recebe imigrante argelinos]. Só na Argélia são estimadas dezenas de milhares de conversões desde os anos 90, especialmente na minha região natal, a Cabília. São principalmente novos evangélicos, bem ativos na evangelização, mas também há conversões ao catolicismo [nota: inclusive por parte dos evangélicos].
A conversão é um risco muito alto para quem quer sair do islã?
Pe. Cheknoun – Quem se converte é espancado e perseguido. Não é incomum ser marginalizado pela própria família, pelos vizinhos. O islã condena a conversão com a pena de morte, porque a considera como apostasia, mas, às vezes, para não matar muçulmanos, eles colocam os apóstatas “em quarentena”, digamos assim, afastando-os fisicamente. Muitos convertidos ficam sem teto, pelas ruas. Eu tive a graça de ter um pai muito aberto, que aceitou a minha escolha. Mas os meus pais são uma exceção. É por isso que muitos são forçados a esconder da família a sua conversão.
Como é a sua vida na Argélia?
Pe. Cheknoun – Em terra islâmica, eu procuro passar despercebido. Não ando de batina nem com a cruz, nunca. Não uso nenhum sinal distintivo. Coloco o colarinho clerical só quando estou numa igreja ou num lugar cristão. É assim com todos os convertidos. No contexto muçulmano, temos que ser esquecidos: o islã não nos suporta. Nós todos vivemos a nossa fé com total discrição.
Vocês acolhem pessoas convertidas em Argel?
Pe. Cheknoun – Em 2006, o parlamento argelino aprovou uma lei para moderar as religiões não-muçulmanas. Na realidade, ela serve para frear a evangelização e as conversões. A lei pune com cinco anos de prisão e uma multa pesada qualquer pessoa que seja pega com textos cristãos, ou que tente converter um muçulmano, ou que critique o islã ou Maomé. Isso nos impede de viver com tranquilidade e, é claro, também nos impede de evangelizar nas ruas. Então nos limitamos a acolher as pessoas que vêm espontaneamente até a igreja e as acompanhamos. Só que até isso leva um tempo longo: para batizar alguém, nós temos que discernir se é uma conversão verdadeira e se a pessoa está bem ciente do tamanho do compromisso.
Qual é a diferença fundamental entre a Igreja e o islã? A diferença que fez o senhor mudar de religião.
Pe. Cheknoun – A razão de ser do islã é antitrinitária e, portanto, anticristã. Os muçulmanos rejeitam a Encarnação e pretendem “corrigir os erros do cristianismo”. Os muçulmanos rezam cinco vezes por dia e sempre terminam orando pela condenação dos judeus e dos cristãos. Dizem que os cristãos são “perdidos” e os judeus “condenados”. Numerosos versículos [do alcorão] convidam a matar os cristãos e os judeus, porque eles teriam falsificado as suas escrituras, matado os seus profetas, e porque não reconhecem Maomé. Os jihadistas não inventam nada: esse terrorismo está escrito no alcorão.
O que lhe inspiram os mártires argelinos que em breve serão beatificados?
[Nota: esta pergunta diz respeito aos monges assassinados de que falamos neste outro artigo]
Pe. Cheknoun – Como ex-muçulmano, eu os vejo como um exemplo. Na minha pequena cidade na Cabília, quatro Padres Brancos foram mortos. Na época, eu tinha lido sobre a morte deles nos jornais e achei que tinham sido mais vítimas do terrorismo. Eu não fui ao funeral, mas sei que muitíssima gente foi, muitos consternados com a morte deles. Mas não foi uma surpresa. Os terroristas tinham ordenado que todos os cristãos deixassem a Argélia. Aqueles que ficaram estavam condenados.