Amadurecer é adquirir a percepção correta de onde devemos nos demorar. E isso você só aprende quando faz algumas escolhas erradas. Há um filme antigo que gosto muito, e que sempre me encanta com sua filosofia. “Um homem de família” (The Family Man) estrelado por Nicolas Cage, conta a história de Jack Campbell, um empresário bem sucedido de Nova York que, de repente, acorda no subúrbio tendo uma vida completamente diferente: a vida que ele não escolheu, mas que poderia ser sua, caso tivesse feito outras escolhas.
Ao se deparar com essa nova versão de si mesmo, ele se assusta com a falta de dinheiro, de luxo, de status. Mas percebe, aos poucos, que teve outros ganhos, muito mais satisfatórios. Porém, quando ele começa a se sentir realmente feliz, percebe que essa sua segunda versão pode não ser real.
Para quem nunca assistiu, vale a pena procurar o filme para ver. Não vou contar qual versão prevalece, mas quero me deter em algo que acredito que é comum acontecer: muitas vezes fazemos escolhas sem total consciência ou amadurecimento para discernir se aquilo nos trará felicidade a longo prazo.
Porém, com o tempo e o distanciamento daquela situação, podemos ter o real entendimento. Infelizmente, nem sempre conseguimos recuperar o que não escolhemos, e nesse caso teremos que lidar com o arrependimento.
Leandro Karnal, cujo vídeo no Youtube me inspirou a escrever esse texto, diz que a tal experiência de vida, que você só adquire quando você fracassa, só aparece quando você tem a possibilidade de olhar pra trás de um modo mais amadurecido.
Acredito que amadurecer é adquirir a percepção correta de onde devemos nos demorar. E isso você só aprende quando faz algumas escolhas erradas. Depois de errar, você começa a perceber o que é realmente bom. E começa a valorizar o que lhe traz paz, alegria, certeza, satisfação, realização.
Às vezes a gente só vai ter a dimensão do que viveu quando o tempo e a distância tiverem cumprido seu papel. Olhar para as situações vividas no passado de um modo mais amadurecido é conseguir ter clareza, algo que só é possível quando já se passou tempo demais, e estamos longe das cobranças e contradições do momento em que as situações se desenrolaram.
Muitas vezes olhamos para trás com satisfação, ao perceber que nossas escolhas foram certeiras. Outras vezes, essa lucidez amadurecida nos mostra que fizemos escolhas ruins, magoamos pessoas, ferimos a nós mesmos… e então teremos que lidar com o arrependimento.
No filme que citei, Nicolas Cage interpreta um homem que se vê vivendo duas vidas, cada uma com um tipo de escolha. É claro que em ambas as existências ele teve perdas e ganhos, e é assim pra todo mundo.
Alguém já disse que cada escolha é uma renúncia, mas a história se complica quando nos arrependemos de algo. Porém, ainda assim, o arrependimento tem a utilidade de nos lapidar, ajudando-nos a ser melhores com os outros e com nós mesmos.
A gente gostaria que o tempo só trouxesse amadurecimento e entendimento. Mas ele também traz arrependimento. Lidar com as feridas que abrimos – nos outros e em nós mesmos – mesmo sem intenção, é muito difícil quando já não resta nenhuma chance de voltar atrás.
A tal experiência de vida ensina que é muito doloroso viver carregando culpa e arrependimento. Por isso torna-se primordial aprendermos com os erros do passado e sermos cuidadosos no trato com as pessoas. Esperar a poeira baixar e o calor do momento se dissipar antes de magoar, acusar, intimidar, revidar.
E finalmente devemos ter consciência de que para algumas coisas não há retorno nem remédio, e é muito doloroso perceber que só fomos capazes de adquirir compreensão da felicidade que tivemos tarde demais…
(via Soma de todos os afetos)