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4 milhões de crianças refugiadas não vão à escola

VENEZUELANS
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Paul De Maeyer - publicado em 07/11/18
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Resultados do mais recente relatório de uma agência das Nações UnidasEm todo o mundo, há aproximadamente quatro milhões de crianças refugiadas que não têm acesso à educação, um aumento de meio milhão no período de apenas um ano.

Sem contar as crianças refugiadas palestinas, o número representa mais da metade dos 7,4 milhões de refugiados em idade escolar.

Esses são os resultados do mais recente relatório da Turn the Tide: Refugee Education in Crisis, emitido pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

De acordo com as estimativas da agência da ONU, no final de 2017 havia 25,4 milhões de refugiados em todo o mundo, dos quais quase 20 milhões estavam sob o encargo do ACNUR. Um pouco mais da metade, 52%, eram menores de idade, dos quais 7,4 milhões tinham idade escolar.

Apesar de meio milhão de crianças estarem matriculadas em escolas em 2017, as matrículas não estão conseguindo acompanhar a população de refugiados “em rápido crescimento”, apesar dos esforços da comunidade internacional, afirma o relatório.

Anos de escolaridade

O documento mostra que apenas 61% (menos de dois terços) frequentam o ensino fundamental, em comparação com 92% das crianças no mundo. Essa disparidade na escolaridade aumenta à medida que as crianças crescem.

Quase dois terços das crianças refugiadas não conseguem passar da escola primária para a secundária. De fato, apenas 23% – menos de um quarto – das crianças refugiadas frequentam a escola secundária, em comparação com 84% das crianças no mundo, afirma o relatório.

Quando se trata do ensino médio, essa disparidade se torna um autêntico abismo, segundo o relatório do ACNUR. Enquanto o nível global de participação no ensino superior é de 37%, entre os jovens refugiados é apenas 1%, percentual, que permanece “inalterado nos últimos três anos”, afirma o relatório Turn the Tide.

Se, em geral, as crianças refugiadas têm menos oportunidades de estudar do que outras crianças da sua idade que não são refugiadas, isso é particularmente verdadeiro em países de baixa renda, que são “desproporcionalmente afetados” pelo movimento de refugiados, afirma o documento.

Segundo o relatório, em 2017 as regiões em desenvolvimento abrigavam 92% dos refugiados em idade escolar.

“Em países de baixa renda, menos da metade das crianças refugiadas em idade primária conseguem ir à escola”, explica o documento da ONU. “No nível secundário, apenas 11% têm a mesma oportunidade”.

Crianças refugiadas

Os autores do relatório também discutem a situação particular das meninas refugiadas, que são forçadas a “enfrentar barreiras ainda maiores em relação à educação”. No Quênia e na Etiópia, existem apenas sete meninas para cada 10 meninos na escola primária, e apenas quatro meninas para cada 10 meninos na escola secundária.

“Se as meninas refugiadas puderem obter educação, suas famílias e comunidades têm mais chances de melhorar sua posição social e econômica”, explica o relatório. Um ano extra de educação pode aumentar a renda da mulher em 20%, revela o documento.

Se todas as mulheres recebessem educação primária, o número de mortes infantis por doenças como diarreia, malária e pneumonia diminuiria, explicam os autores do relatório. Por exemplo, as mortes por diarreia, a terceira causa mais comum de mortalidade infantil, cairiam 8% se todas as mães completassem o ensino primário e até 30% se tivessem acesso ao ensino secundário.

Falta tudo

A realidade cotidiana das crianças refugiadas que têm a sorte de poder frequentar a escola ainda não é fácil. Falta um pouco de tudo, de livros didáticos a salas de aula.

“Quando chove, tudo fica molhado”, diz Irahoze Diello, de 14 anos, refugiada do Burundi que agora vive no campo de refugiados de Nduta, na Tanzânia.

“Irahoze é uma das cerca de 200 crianças refugiadas que estudam na Escola Primária Furaha, onde as aulas são realizadas ao ar livre”, explica o relatório. Há também uma “lacuna de gênero preocupante”: para cada garota que frequenta a escola, há três meninos.

As crianças em campos de refugiados ou em assentamentos informais em Cox’s Bazar, em Bangladesh, onde mais de 700 mil refugiados rohingya que fugiram de Mianmar (antiga Birmânia) vivem em condições precárias, têm que lidar com as chuvas de monção que costumam ser devastadoras.

Mas as crianças, como Minara, de 12 anos, não se deixam desanimar, porque a sua estada no povoado de Kutupalong lhes oferece uma oportunidade: pela primeira vez em suas vidas, elas podem ir à escola, mesmo que seja apenas uma improvisada. Refugiados em Bangladesh não têm acesso à educação formal, informa o ACNUR.

DAFI, IKEA …

Em seu relatório, a agência da ONU também enfatiza a importância de parcerias, não apenas com governos, organizações humanitárias e ONGs para o desenvolvimento, mas também com o setor privado.

Entre as muitas iniciativas, o programa Turn the Tide menciona o programa alemão DAFI (sigla em inglês para Deutsche Akademische Flüchtlingsinitiative Albert Einstein), que concede bolsas a jovens reconhecidos como refugiados para que possam continuar seus estudos superiores nos países onde encontraram asilo. Iniciado em 1992 em colaboração com o ACNUR, o programa já ajudou mais de 14.000 jovens, incluindo a estudante somali Hawo Jehow Siyad.

Tendo chegado em 2000 ao campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, Hawo conseguiu concluir o ensino fundamental e médio no campo. Graças a uma bolsa de estudos da DAFI, ela se formou na Universidade de Nairobi. Hawo retornou ao seu país natal, onde ela trabalha hoje como oficial de banco de dados.

Outro exemplo de parceria é o existente entre o ACNUR e a Ikea Foundation, que em 2012 possibilitou o lançamento de um programa de microcrédito para refugiados na região de Dollo Ado, no sudeste da Etiópia, próximo à fronteira somali.

Graças ao acordo com a fundação sueca, até o final de 2017, 47.000 crianças refugiadas estavam indo à escola: mais do que o dobro em 2012. No início de 2018, foi inaugurada uma nova faculdade de formação de professores, onde 200 estudantes etíopes e 23 estudantes refugiados estão agora estudando para se tornarem professores. A primeira geração se formará em 2020.

As palavras do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

Na introdução do documento, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, explica que “a educação é uma maneira de ajudar os jovens a se curarem, mas é também a maneira de reviver países inteiros”.

Sem educação, o italiano diplomata diz: “o futuro deles e, eventualmente, o futuro de suas comunidades, serão irrevogavelmente danificados”.

Enquanto ele descreve como os refugiados costumam passar vários anos, e até décadas, no exílio – às vezes toda a sua infância e juventude – “a escola é muitas vezes o primeiro lugar para recuperar a normalidade – segurança, amizade, ordem, paz”, diz Grandi.

Mesmo que as crianças sejam “extraordinariamente resilientes”, há uma necessidade de investimentos urgentes para evitar que centenas de milhares de crianças se tornem parte dessas “estatísticas perturbadoras”.

O Alto Comissariado da ONU também faz um apelo à comunidade internacional para que inclua crianças refugiadas nos sistemas nacionais de educação de seus países anfitriões, porque “a educação é uma das formas mais importantes de resolver as crises mundiais”.

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