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O mundo das finanças aposta na maconha

CANNABIS,PLANT
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Paul De Maeyer - publicado em 09/12/18
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A legalização das drogas também afeta Wall Street e a indústria farmacêutica

Cannabis ou maconha é de longe a droga mais consumida. Na Europa, mais de 24 milhões de pessoas usam, especialmente os jovens. É o que revela o relatório anual do Observatório Europeu de Drogas e Toxicodependência (OEDT) publicado em junho. Quase três quartos, ou 17,2 milhões deles, estão entre as idades de 15 e 34 anos.

Embora seu consumo possa ser viciante e causar danos à saúde (por exemplo, problemas neuropsicológicos), a maconha é hoje tão popular no mundo que, em alguns países, foi legalizada como uma “droga recreativa”.

Legalização

O primeiro país a tornar tanto a produção quanto a venda de maconha legal há quase cinco anos, em dezembro de 2013, foi o Uruguai; o presidente da época era José Mujica.

Com o objetivo de combater o tráfico ilegal da conhecida substância narcótica, o país sul-americano decidiu oferecer a cannabis através de um monopólio estatal a preços mais baixos e com uma qualidade ainda melhor do que o circuito dos traficantes.

Seguindo os passos do Uruguai, em junho passado foi o Canadá. Seu Senado aprovou uma medida “histórica” na terça-feira, 19 de junho, com 52 votos a favor, 29 contra e duas abstenções: o projeto de lei C-45 autorizou, a partir de 17 de outubro, o consumo e produção de maconha.

Com um “sim” à cannabis, cuja legalização fez parte da campanha eleitoral de 2015 do atual primeiro-ministro, Justin Trudeau, o Canadá se tornou o primeiro membro do G20 e G7 a abrir as portas para o consumo recreativo da maconha. Desde 2001, seu uso médico ou terapêutico já foi autorizado no Canadá.

Situação nos EUA

A situação nos Estados Unidos é diversificada, onde nove Estados (Alasca, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Nevada, Oregon, Vermont e Washington) e o Distrito de Columbia permitem o uso recreativo. Embora o uso terapêutico seja permitido em mais 30 Estados, o uso de maconha continua sendo ilegal no nível federal.

Enquanto em um Estado, Vermont, o consumo foi autorizado pelo legislativo estadual, em outros a decisão foi tomada por referendo, como no caso da Califórnia, onde em novembro de 2016 o “Sim” para a Proposição 64 (ou California Legacy Marijuana Initiative) obteve 57,13% de apoio.

Com o “Sim” no Estado da Califórnia (40 milhões de habitantes) e no Canadá (cerca de 36,5 milhões de habitantes), estima-se que o número de adultos com acesso à maconha legal suba este mês para cerca de 75 milhões de pessoas, segundo os cálculos do jornal espanhol El País em um artigo de 1 de outubro.

Interesse do mundo das finanças e “Big Pharma”

No artigo, o El País se concentrou especialmente no rápido aumento do interesse pela maconha por parte do mundo das finanças e da indústria. Segundo a empresa de consultoria Arcview, ao longo de 2017, o mundo gastou US$ 9,5 bilhões em maconha legal, um número que deve subir para 12,9 bilhões em 2018 e para 32 bilhões em 2022.

A recente decisão da Drug Enforcement Administration (DEA) de colocar o Epidiolex ® – o primeiro medicamento à base de canabidiol (CBD, um componente não psicoativo da Cannabis sativa) aprovado em junho pela Food and Drug Administration (FDA) – no Schedule V de drogas, isto é, aqueles com um risco mínimo de dependência, elevou as ações da empresa fabricante, GW Pharma, em 6,2% na Wall Street, escreve o diário de Madrid.

Outro exemplo é a tendência no mercado de ações da empresa canadense Tilray, a primeira produtora de maconha medicinal ou terapêutica a ser listada na Nasdaq. As ações, como El País lembra, fizeram sua estreia em Wall Street por US$ 17; atualmente, seu valor é superior a US$ 130 por ação.

Até mesmo a indústria de bebidas subiu na onda da maconha. Na verdade, a colossal Constellation Brands, que controla e distribui marcas conhecidas como Corona e Casa Noble (tequila), anunciou em agosto que vai investir US$ 4 bilhões na empresa canadense Canopy Growth, ativa no setor de cannabis. Além disso, a Coca-Cola está estudando o lançamento de bebidas à base de CBD, continua El País.

Efeito “indesejado” da legalização

Parece, portanto, que o setor está em pleno aquecimento. Mas, paradoxalmente, a legalização da maconha teve um impacto negativo na situação das pessoas no Estado de Oregon que dependem da cannabis para tratar os sintomas de suas doenças.

No Oregon, que foi um dos primeiros estados em 1998 a legalizar seu uso por razões terapêuticas, apenas três empresas ainda preparam maconha estritamente medicinal, incluindo a PharmEx, fundada em 2015 por Erich Berkovitz, que sofre da síndrome de Tourette e trata seus sintomas com cannabis.

Enquanto em 2016 havia 420 centros de distribuição de maconha medicinal em todo o Estado, hoje restam apenas oito, dos quais apenas um tem produtos Berkovitz em suas prateleiras, de acordo com um relatório no The Guardian em 31 de julho.

Mercado negro

De fato, muitos produtores decidiram abandonar o mercado terapêutico de cannabis para lançar-se no mercado mais lucrativo da maconha recreativa. Isso significa que muitos pacientes são forçados a recorrer ao mercado negro, especialmente se precisarem de preparações com alto teor de THC, o princípio psicoativo presente na cannabis. De fato, como resultado das regras introduzidas pela Autoridade de Saúde de Oregon, os produtos no mercado legal são muito brandos para aqueles que estão realmente doentes.

O mercado negro existe, mesmo em Oregon, apesar da legalização da maconha. A causa dessa situação paradoxal é a superprodução de cannabis no Estado. Em fevereiro passado, havia 0,5 milhão de quilogramas de flores de cannabis no banco de dados do Oregon, três vezes a quantidade comprada pelos residentes do Estado dentro de um ano. Isso significa que, como observa o The Guardian, que o excedente desaparece do mercado regulado.

De fato, não há controle sobre os vários produtores de plantas de cannabis no Estado, como evidenciado por uma revisão interna realizada pela Autoridade de Saúde do Oregon, que administra o programa de maconha medicinal no Estado. Como o Seattle Times aponta, apenas 58 dos mais de 20.000 locais de cultivo de maconha medicinal foram inspecionados em 2017.

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