Nunca somos “velhos demais” para desfrutar do maravilhamento de aprender e conhecer o mundo fascinante em que vivemosErmelinda tem 105 anos de idade e nunca tinha podido frequentar o ensino fundamental – até agora, quando finalmente está tendo a oportunidade de enfrentar esse desafio na casa de idosos onde vive.
Ela tem aulas duas vezes por semana junto com outros colegas do Lar para Idosos Elena Herbert de Estefanell, em Chascomús, na província argentina de Buenos Aires. Nenhum deles pôde ir à escola na infância. Ela, porém, é a única centenária do grupo: tem de 15 a 25 anos a mais que seus “coleguinhas“. Aliás, Ermelinda tem bisnetos que estão na mesma série que ela – mas, obviamente, em outras escolas.
A bisavó lê poesias, faz exercícios e escreve, embora às vezes ache difícil segurar o lápis, conforme disse em entrevista ao jornal Clarín:
“Eu adoro ler. A minha mãe, Etelvina Álvarez, me ensinou. Não posso ficar sentada sem fazer nada. E não sinto a minha idade. Se eu tivesse que dar um número, diria que me sinto no máximo com 60 anos”.
Quando era menina, Ermelinda teve de ajudar nos trabalhos agrícolas da família de 13 irmãos e por isso não podia ir à escola. O mesmo aconteceu com milhares de crianças de sua geração. Toda a instrução básica disponível, que incluía aprender a ler, escrever e fazer contas, era recebida em casa.
Agora, o lar para idosos está oferecendo a ela e aos seus companheiros na longa jornada da vida o conhecimento que nunca tiveram a chance de receber antes. É um projeto conjunto do lar com o Centro de Educação de Adultos 702 – e é apenas uma das atividades oferecidas pela instituição, que é o orgulho da cidade, com capacidade para mais de 60 moradores. Graças ao acordo entre as duas entidades, um professor vai duas vezes por semana, à tarde, dar aulas aos residentes. Nos outros dias da semana, os idosos participam, entre outras atividades, de caminhadas, oficinas de arte, aulas de culinária e muita convivência festiva.
Milhares de adultos na Argentina estão encarando o desafio de concluir o ensino fundamental e médio. Neste ano, mais de 110.000 adultos se cadastraram para concluir os estudos no país – nem todos, é claro, têm a idade de dona Ermelinda.
O mesmo desafio é bastante grande no mundo todo. Conforme um relatório da Unesco de 2017, havia em 2015 cerca de 264 milhões de crianças e jovens em idade primária e secundária fora da escola. O mesmo relatório aponta que muito poucos adultos que não concluíram o ensino primário voltam para a escola.
Nesse contexto, pessoas como Ermelinda dão um testemunho vivo do desejo de aprender e crescer, seja qual for a própria idade. É uma inspiração e um incentivo para todos nós aproveitarmos as oportunidades de aprimoramento pessoal, quaisquer que sejam as circunstâncias.