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Os Salmos inspiraram o “Cristo Crucificado” de Velásquez?

Christ crucifié, Diego Velázquez (détail) © wikimedia commons

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Daniel R. Esparza - publicado em 06/10/19
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Um olhar mais atento aos detalhes anatômicos da pintura revela a mente criativa desse grande mestreDiego Velásquez, o mestre andaluz do século XVII, foi o artista principal na corte do rei Filipe IV e um dos pintores mais importantes da Era de Ouro espanhola.

Sua importância na história da arte é grandiosa, pois sua obra influenciou não apenas seus contemporâneos, mas também favoreceu alguns dos desenvolvimentos de períodos artísticos posteriores, especialmente nos séculos XIX e XX.

Cavaleiro e membro da Ordem de Santiago, Velásquez era relativamente versado não apenas em questões artísticas, mas também em temas bíblicos e teológicos.

O “Cristo Crucificado” de Velásquez é uma de suas pinturas religiosas mais famosas. Alguns historiadores afirmam que ele aprendeu a usar contrastes entre claro e escuro com o mestre italiano Caravaggio (ele pode ter visto seu trabalho através de cópias). Com essa técnica, ele queria adicionar realismo e um drama teatral às suas próprias pinturas.

Isso faz sentido, já que, do ponto de vista do estilo, esse quadro parece ter sido pintado logo após sua estadia na Itália, no início da década de 1630. De fato, a perfeição anatômica da figura de Cristo segue os ideais renascentistas, que Velásquez pode ter visto com seus próprios olhos no trabalho de Guido Reni enquanto estava na Itália.

No entanto, historiadores da arte afirmam que pode haver uma outra explicação para essa busca da perfeição anatômica: Velásquez pode ter se inspirado em um salmo. Pelo menos indiretamente.

Francisco Pacheco, mentor e sogro de Velásquez, foi o autor de um tratado amplamente divulgado, “A Arte da Pintura”, um livro que continha instruções detalhadas e minuciosas para os pintores que desejavam trabalhar em iconografia religiosa.

Ele codificou todos os grandes motivos da pintura religiosa barroca, incluindo como pintar a Santíssima Trindade, a Imaculada Conceição e, é claro, o próprio Cristo, principalmente baseado nas Escrituras, mas também na Tradição e no Magistério. Em seu tratado, Pacheco escreveu:

Cristo, Nosso Senhor, não tinha pai terreno e, portanto, assemelhava-se completamente à sua mãe, que, depois Dele, foi a criatura mais bela que Deus já criou.

Isso pode ter sido uma orientação suficiente para Velásquez: na verdade, a Tradição sempre alegou que Cristo foi realmente o mais belo dos homens; portanto, é natural que Velásquez tenha recorrido a alguns dos cânones da beleza anatômica neo-grega para trabalhar em seu Cristo.

Mas pode haver ainda outra fonte que justifique a alegada beleza física e sobrenatural de Jesus: o Salmo 44 (45), que diz: “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens”.

Mas a beleza anatômica e sobrenatural do corpo de Cristo pode ser encontrada não apenas em suas perfeitas proporções neo-gregas que Velásquez seguiu estritamente, mas no forte contraste entre o corpo luminoso de Cristo e a escuridão absoluta da cena, para a qual Velásquez certamente se inspirou nos Evangelhos Sinópticos: Marcos, Mateus e Lucas afirmam que a escuridão baixou em toda a terra “do meio-dia à nona hora” (isto é, até às três da tarde) quando Jesus foi crucificado.

Alguns teóricos e críticos de arte consideram que o uso desse claro-escuro radical tem como objetivo representar o triunfo da luz da ressurreição de Cristo sobre a morte e o pecado, ou seja, também um tipo de beleza sobrenatural: a inefável beleza da própria redenção.

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