A pandemia do coronavírus deixou ainda mais evidentes os desafios da educação nos lugares em que não há sinal de internet Na história que a humanidade escreve sobre a pandemia do coronavírus, um capítulo muito valioso é aquele que fala sobre a educação. Os lares, atualmente, foram transformados em escolas à distância. Pelo Zoom, Google ClassRoom, WhatApp e outros aplicativos de conversas em tempo real, o vínculo entre professor e aluno foi reinventado. Tudo isso graças à conectividade.
Mas temos que lembrar que o campo longínquo e as regiões de deserto e montanhas em todo o planeta ainda dependem dos mistérios da ciência e dos ajustes da tecnologia para se conectarem com o resto do mundo.
Jeremías, da cidade de La Pampa, na Argentina, não tem sinal de internet em casa. Aluno de uma escola do povoado de Santa Isabel, ele driblou a dificuldade e mostrou seu esforço em um vídeo enviado para a professora. Para cumprir seus compromissos com a educação nesta época de distanciamento social imposto pelo coronavírus, o garoto tem que ficar em cima de um animal no único lugar em que há sinal de internet na região: o pico de uma enorme montanha. Só assim ele consegue enviar as tarefas exigidas pela escola.
Sonia, a docente, está a 170 quilômetros do povoado. Foi ela que tornou público o esforço do menino e de seus pais para manter a escolaridade do garoto durante o período de isolamento obrigatório.
“Quarentena positiva”
O abismo digital, ou seja, a distância entre aqueles que têm acesso à internet e os que não têm, é uma realidade em todo o continente americano. Mas a criatividade de professores e das famílias para enfrentar esse período de pandemia e aulas on-line é ainda maior.
Na América Central, a ONG jesuíta Fé e Alegria lançou a “Quarentena Positiva”, uma campanha solidária de ações emergenciais de acompanhamento pedagógico e psicológico. Apenas 17% dos estudantes atendidos pela ONG têm acesso à internet. Depois de um estudo complexo, os voluntários adaptaram os planos de estudo, publicaram-nos na internet e nas redes sociais para as famílias com conexão e instalaram linhas telefônicas nas casas das famílias sem acesso à internet. Nas residências em que não foi possível instalar nem internet nem telefone, o conteúdo das aulas é transmitido por um sistema de rádio. Quando nem isso é possível, o conteúdo chega através de alto-falantes nas ruas ou fotocópias dos conteúdos entregues nas casas.
Relação personalizada
Tanto o caso de Jeremías quanto o trabalho da O NG Fé e Alegria nos mostram que, cada vez mais, as ferramentas de comunicação e de educação precisam ter um vínculo personalizado. Em muitos casos, é impossível prever quando e de que maneira as crianças poderão enviar as tarefas aos professores, e se eles vão estar disponíveis quando a mensagem chegar.
Projetos pendentes
Em 2015, o Facebook anunciou um ambicioso projeto que usaria drones alimentados por energia solar para levar o sinal de internet às regiões sem conectividade.
Esse desafio pessoal de Mark Zuckberger foi suspenso em 2018. Porém, dias antes da explosão da pandemia, o Facebook informou novas estratégias para levar conectividade a mais de 3,5 bilhões de pessoas no mundo. A própria empresa diz que a acessibilidade, em alguns lugares, precisará fazer uso de ferramentas tradidiconais, como o cabo e o satélite.
Em 2019, metade da população mundial tinha acesso à internet. Mas o desafio ainda é muito grande. Os “Jeremias” de todo o mundo, mesmo com grande esforço pessoal, expõem as desigualdades e a necessidade urgente de se tapar o “vão” digital no planeta.
Leia também:
O garoto que usava a luz da rua para fazer a tarefa de casa