O hospital fluvial tinha tido que suspender as expedições no começo da pandemia por causa do fechamento dos portos na região amazônicaO Barco-Hospital Papa Francisco teve que suspender as suas operações no início da pandemia de covid-19 por causa dos bloqueios nos portos fluviais da região amazônica, necessários para reduzir a proliferação do coronavírus. Já faz cerca de um mês, porém, que o hospital itinerante voltou a singrar as águas do Rio Amazonas para atender as comunidades ribeirinhas do oeste do Pará, onde vem entregando cestas básicas e kits de higiene para as famílias que ficaram ainda mais isoladas por causa da crise sanitária mundial.
O bispo de Óbidos, dom Bernardo Bahlmann, explica que os serviços foram reativados com o auxílio emergencial de médicos do Hospital Universitário São Francisco, de Bragança Paulista, SP:
“Nós retomamos porque percebemos que, no interior, onde o vírus ainda não chegou, tinha muita gente com problema de saúde porque não podia vir para as cidades. Primeiro porque não era permitido, digamos assim; a orientação sempre foi de ficar em casa. Então as pessoas começaram a ter necessidade porque tem pessoas que estão doentes, são diabéticos, têm problema de coração; já estavam sem remédio e os alimentos têm cada vez menos. A partir disso, pensamos que o barco poderia retomar as suas atividades aqui no município. Tudo isso foi feito em concordância com a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Saúde. O barco, então, foi para algumas localidades aqui do próprio município de Óbidos e constatamos que, felizmente, não tinha o vírus da Covid-19”.
Doação do Papa Francisco
Além do atendimento de saúde, as famílias receberam cestas básicas e kits de higiene doados pelo Papa Francisco. Dom Bernardo comenta:
“Muitos já estão até passando fome”.
Comunidades atingidas pelo vírus
Na retomada das operações do barco-hospital, os médicos e agentes de saúde não estiveram trabalhando diretamente com as pessoas infectadas pela covid-19, mas dom Bernardo antecipa que esta realidade deve mudar, já que a embarcação visitará nos próximos dias as comunidades de Juruti e Juruti Velho, perto de Parintins, já em território do Amazonas, onde o coronavírus está circulando.
Embora a divisa entre os Estados do Pará e do Amazonas esteja fechada, é muito difícil controlar a circulação clandestina de pessoas devido à incontável quantidade de rios da região. Muita gente depende dessa movimentação para fazer compras e até para conseguir atendimento médico. Também na Amazônia, portanto, persiste o desafio de garantir o suprimento das necessidades básicas da população e, ao mesmo tempo, protegê-la do vírus. A principal rota fluvial da região, que é o próprio Rio Amazonas, inclui cidades entre as mais atingidas do país pela pandemia – entre elas Manaus e Belém, as capitais do Amazonas e do Pará.
Além disso, há preocupação quanto ao fato de que o barco-hospital deverá visitar as comunidades indígenas. Dom Bernardo cita em particular as aldeias da Missão Tiryó, 500 quilômetros ao norte da diocese de Óbidos, já na fronteira com o Suriname. Entre o grupo de 1.300 indígenas que moram na parte brasileira e outros 1.000 no lado surinamês, o vírus já está se espalhando e há vários registros confirmados de covid-19.
As expedições do barco-hospital
Em períodos normais, o Barco-Hospital Papa Francisco realiza de 2 a 3 expedições por mês, durando cada uma de 7 a 10 dias. O barco, equipado principalmente para exames básicos de saúde, atende cerca de mil comunidades ribeirinhas de 12 municípios do Pará ao longo do Rio Amazonas. Desde agosto de 2019 até o final de maio de 2020, o hospital fluvial Papa Francisco já fez 43.094 atendimentos, beneficiando cerca de 700 mil pessoas que vivem às margens do mais volumoso rio do planeta Terra.
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