Vivemos no tempo do mostrar-se. Tudo ou quase tudo se mostra. O prato que comemos, a roupa que vestimos, as opiniões que temos... tudo vira facilmente um post nas redes sociais. Constantemente somos confrontados ao barulho, aos ruídos que nos cercam. E o silêncio se torna cada vez mais raro, mais tímido, mais esquecido. E para escutar é necessário silenciar. Escutar ao próximo, Deus ou a si mesmo é exercício por vezes difícil, pois nos obriga a sair da frente dos holofotes, onde mostramos somente aquilo que outros desejam ver, para entrar no íntimo daquilo que somos, profundamente.
Nesta cultura dos sons na qual vivemos, o silêncio pode fazer medo. Pois silenciar é entrar num outro modo de relação. E isso pode afetar nossas relações interpessoais, mas também nossa relação com Deus.
A vivência cristã tem como um dos fundamentos a oração. Rezar não é opcional se quisermos crescer na intimidade com Deus, no conhecimento dele e de si mesmo. A oração é um elemento precioso. Mas nós já sabemos disso, de uma maneira ou de outra. Porém, cada um de nós experimenta, na prática, o quanto é difícil permanecer fiel à oração, a este encontro de dois corações que se unem num diálogo amoroso.
A oração é um diálogo. Ela tem que ser um diálogo. O próprio Jesus nos dá um indício em Mateus 6, 6: “tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo.” A oração é um encontro. Somos esperados. Nessa espera, o Senhor deseja nos receber para estabelecer um diálogo onde cada um fala, onde cada um escuta.
O que Jesus nos convida a fazer é revelador de como podemos viver nossa oração. “Fechando tua porta...” pensamos assim que ele está falando da porta do quarto, no qual entramos. Mas paradoxalmente, podemos também interpretar o ato de fechar como um convite a fechar a porta do coração. Como assim? Rezar com o coração fechado? Não, claro que não. Mas fechar a porta do coração para os ruídos de fora. Para o barulho que nos circunda. E entrar num silêncio habitado que nos preenche da presença d’Aquele que ali está a nos esperar.
O silêncio na oração cristã não deve ser interpretado como um silêncio vazio, ou que nos leva a um vazio existencial. Vimos que Jesus convida a entrar num quarto que já está habitado pela presença do Pai. O silêncio na oração cristã é um silêncio preenchido e que tende a nos levar à completude pois Deus ali está a nos escutar e a nos falar.
O diálogo oracional é feito de silêncios e escutas. Falamos com Deus, mas também precisamos escutá-lo. E dificilmente ele se apresenta de maneira barulhenta ou violenta. Quase sempre Ele se dá a conhecer através do “ruido de uma brisa leve.” (1 Reis 19, 12) O silêncio na oração se torna um elemento essencial para poder escutar aquilo que Deus tem a nos dizer. Muitas vezes, Ele não passa pelas palavras. A escuta é contemplativa, o silêncio é criador. Ele cria outros laços, outras pontes. Para ouvir é preciso silenciar. Silenciar para ouvir as angústias e dores do mundo, muitas vezes ferido. Ouvir aquilo que os que nos cercam vivem. E o silêncio que nos permite ouvir além do barulho ambiente, torna-se criador se, aquilo que colhemos nos silêncios se torna alimento para a nossa oração.
Em meio a esse mundo absorto pelo barulho e pela distração, convido você a viver um caminho de intimidade com Deus. A missão Horeb e o site Hozana propõem 7 dias de oração para aprender a viver o silêncio. A intimidade com Deus é o caminho para o crescimento interior, para a escuta precisa da voz Dele, e para o autoconhecimento. E é justamente isso que esse retiro propõe: meditações e exercícios espirituais para que você encontre esse caminho do silêncio interior. Clique aqui para participar.
O que você está ouvindo agora? Qual é a qualidade de sua escuta? E como isso alimenta seu diálogo com Deus? Entre no seu quarto. Feche a porta, e ore ao seu Pai que ali está lhe esperando. Com Ele, até o seu silêncio é compreendido. Porque ele será fruto da escuta.
Padre Emmanuel Albuquerque, pelo Hozana