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Crises pedem solidariedade, solidariedade pede sacrifícios

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 15/07/21
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A solidariedade encontra-se inscrita em todos nós, mas sempre seremos tentados pelo individualismo, pelo egoísmo e pela cobiça

A esperança cristã não é otimismo cego, mas sabedoria que nasce da experiência de sermos amados e protegidos, de modo imprevisto, por Deus. À luz dessa esperança, crises não deveriam ser ocasiões de desespero e confusão, mas sim oportunidades de aprendizado e discernimento.

Quando uma recessão econômica, causada pela redução da atividade produtiva em função do isolamento social, se soma às mortes causadas pelo coronavírus, precisamos muito dessa esperança e desse discernimento.

Como vimos em outro artigo, a grande diretriz socioeconômica da doutrina social da Igreja para enfrentar uma crise é a solidariedade (exposta em Sollicitudo rei socialis, de São João Paulo II, de 1987, e Caritas in veritate, de Bento XVI, de 2009) – acompanhada pela subsidiariedade (ver O protagonismo social na pandemia).

Na atual pandemia, parece haver um consenso cada vez maior sobre a importância da solidariedade. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne os países mais ricos do mundo), já declarou  que a cooperação internacional e a solidariedade são indispensáveis para a superação da crise. Nessa perspectiva, países têm prestado ajuda técnica e até enviado profissionais para outros mais afetados pela Covid-19. Os pacotes de ajuda econômica emergencial dos governos têm priorizado a ajuda aos mais pobres, o apoio a empresas que não demitam seus funcionários, etc. As legislações se adaptam para proteger os que mais estão sofrendo com a paralização da economia.

No campo privado, empresas e instituições financeiras têm procurado dar sua contribuição, se readequando para não demitir funcionários, usando suas instalações para dar assistência à população, criando facilidades para seus devedores e/ou feito grandes doações a populações afetadas pela crise econômica. Os cidadãos, individualmente, também procuram dar sua contribuição, com programas de compras a pequenas empresas em risco, manutenção de empregados domésticos, mesmo que não venham trabalhar, e – evidentemente – mantendo o chamado “isolamento social” (não importa aqui se “horizontal” ou “vertical”).

Tais comportamentos nascem de análises que mostram como a solidariedade permite que todos superem mais rapidamente a crise, com menos prejuízo individual para cada um. Contudo, também correspondem a uma tendência inata no ser humano.

Fomos criados para o bem, ainda que tenhamos uma inclinação para o mal, fruto do pecado (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC 1706-1707). A solidariedade encontra-se inscrita em todos nós, mas sempre seremos tentados pelo individualismo, pelo egoísmo e pela cobiça. Momentos de crise fazem com que tenhamos que assumir decididamente uma dessas duas possibilidades: a solidariedade ou o individualismo. 

A solidariedade nos dá satisfação. Contudo, nas dificuldades, para ser eficiente, implica em sacrifícios. É relativamente fácil ser solidário quando se dá algo que não nos falta, mas na crise precisamos dar aquilo que poderá nos faltar. Não se trata de distribuir a abundância, mas compartilhar a carência. Nesses momentos, a história mostra que, onde a maioria estava disposta a fazer mais sacrifícios pelo bem comum, foi possível superar mais rapidamente as tragédias de pestes, guerras, terremotos e tsunamis.

A solidariedade pode nascer num movimento instintivo, como resposta natural frente ao sofrimento do outro. Mas a instintividade é incerta. Para que a solidariedade seja efetiva, as sociedades precisam se educar para praticá-la. Infelizmente, vivemos num contexto que frequentemente educa mais para o individualismo e para a fuga do sacrifício. A pandemia, nesse sentido, pode ser uma grande ocasião educativa.

Contudo, para os cristãos, a solidariedade não nasce apenas da constatação de que é necessária ou da instintividade. É uma resposta à consciência de que somos muito amados por Deus que realizou, por nós, o supremo sacrifício de seu Filho. Por isso, a solidariedade cristã não deveria temer o sacrifício.

Podemos todos nos perguntar qual sacrifício estamos fazendo em solidariedade aos nossos irmãos que mais sofrem com a pandemia e a recessão econômica.

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