O Pe. Andriy Zelinskyy tem sido capelão dos soldados ucranianos nos últimos 16 anos. Como sacerdote na linha da frente, acompanhou-os durante a guerra de 2014 em Donbass. Nessa altura, passou quatro anos entre os militares na área de conflito.
"É muito difícil ver os amigos morrerem. E estes não são meros conhecidos, pessoas com quem já se encontrou uma ou duas vezes. São amigos. E eu já perdi muitos. Nem um, nem dois, nem três", disse o Pe. Zelinskyy em uma entrevista ao jornal Crux.
Atualmente, juntamente com os líderes da Igreja Católica Grega Ucraniana, o Pe. Zelinskyy mudou-se para Lviv, onde coordena o ministério dos outros capelães militares.
Aonde a Rússia irá parar?
"A nossa guerra começou em 2014", disse Zelinskyy. "Só que, nessa altura, o Ocidente optou por não dar importância. Todos apenas fecharam os olhos, fingindo que nada estava a acontecer na Ucrânia. Mas hoje em dia não estamos sozinhos".
O jesuíta, que é um especialista em ciência política, explica ainda que o objetivo do governo russo é uma profunda mudança geopolítica na Europa.
A intenção de Putin, disse ele, é uma "transformação geopolítica" que terá impacto em toda a Europa, porque a Rússia tem "ambições muito maiores do que apenas a Ucrânia". É importante compreender porque algumas vezes tornamo-nos presas da nossa ignorância voluntária. Tentamos fingir, acreditar que havia paz".
"Mas a paz é o resultado da nossa abertura à verdade e à justiça", disse Zelinskyy. "E temos de nos abrir a ela, porque, como disse Jesus, só a verdade vos libertará".
Na verdade, "trata-se dos valores sobre os quais todo o mundo ocidental, toda a tradição judaico-cristã foi construída".
"Somos todos responsáveis pela paz", disse ele. "E a paz não começa com palavras". A paz não é uma ideologia; é uma responsabilidade".
"A cidade mais pacífica que já visitei"
Pe. Andriy Zelinskyy destacou a devastação infligidas pelo exército russo. Ele indicou que só em Kharkov os ocupantes arruinaram cerca de 60 escolas e mais de 600 casas e prédios. Também mencionou o incessante bombardeio de Kiyv, iniciado logo no início da invasão.
"Kyiv foi sempre uma das cidades mais pacíficas que já conheci", disse Zelinskyy. "E lembro-me da manhã de Fevereiro, quando todo este paradigma mental acabou de ser completamente destruído pelas bombas russas".
E ainda não sabemos quantos bons pais e mães foram enterrados em escombros devido ao mal insensato e sem sentido que anda pelas nossas ruas nestes dias", disse ele.
"Estamos a testemunhar o mal em nome do mal". Qual é a razão estratégica para atirar uma bomba de 500 quilos em uma maternidade? Numa escola? Em prédios de apartamentos?"