Em uma guerra, todos sofrem. Mas, certamente, o impacto dos conflitos sobre as crianças é ainda maior. Elas padecem ao ver a família dividida, já que os pais, muitas vezes, precisam ir para o combate. Também perdem a referência de lar, pois precisam abandonar suas casas. Além disso, veem suas escolas destruídas, assim como a cidade e o país. Como se não bastasse, ficam expostas ao risco de morte e de todo tipo de atrocidade, como sequestro e exploração sexual.
O Direito Internacional Humanitário prevê que forças armadas adotem medidas de proteção a civis em países em guerra. Isso inclui, sobretudo, crianças e adolescentes, que são particularmente vulneráveis nas regiões marcadas por conflitos. Na prática, entretanto, a medida raramente acontece.
Na Ucrânia, por exemplo, cerca de 400 crianças foram mortas ou feridas desde a invasão russa, em fevereiro de 2022. A informação é da ONG Save The Children, que também estima que 4,8 milhões de menores tiveram que deixar suas casas.
O calvário das crianças nos países em guerra
A guerra não atinge somente a Ucrânia. Atualmente, há, pelo menos, 70 países envolvidos em conflitos - e alguns deles se arrastam há anos.
Embora sejam conflitos que não despertam tanto a atenção da mídia, eles não deixam de ser menos graves em termos de morte e destruição. Também nesses países em guerra, a situação das crianças é considerada extremamente preocupante. Tanto que o Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, identificou e condenou seis tipos graves de violações contra crianças e adolescentes em tempo de guerras.
Entre os anos de 2005 e 2020, o Unicef confirmou mais de 266 mil violações graves contra crianças e adolescentes em mais de 30 situações de conflito na África, Ásia, Oriente Médio e América Latina.
Violações contra crianças nas áreas de conflito
1. Matança e mutilação de crianças. Segunda o Unicef, foram confirmados mais de 104.100 casos de crianças mortas ou mutiladas em situações de conflito armado. Mais de dois terços deles aconteceram em 2014;
2. Recrutamento e uso de crianças e adolescentes pelas forças e grupos armados. Os menores são usados como combatentes, cozinheiros, carregadores, mensageiros e espiões. No período de análise, registraram-se 93 mil casos em que as crianças e adolescentes foram forçadas a agir na linha de frente dos conflitos;
3. Ataques a escolas e hospitais. O Unicef identificou 13.900 ataques diretos e indiretos a instalações educacionais e médicas. "Esses ataques não apenas colocam a vida de meninas e meninos em risco, mas também interrompem seu aprendizado e limitam seu acesso à assistência médica, o que pode ter um impacto permanente em sua educação, oportunidades econômicas e saúde geral", afirma a instituição;
4. Violência sexual. Nas regiões em conflito, o fundo das Nações Unidas registrou 14.200 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes nos países em guerra. As meninas representam a esmagadora maioria das vítimas;
5. Rapto de crianças e adolescentes. A estimativa é que, entre 2005 e 2020, 25.700 crianças e adolescentes foram raptados nos países em conflito. Esse tipo de crime intimida grupos em guerra e também alimenta o tenebroso mercado da prostituição e do tráfico de órgãos;
6. Recusa à ajuda humanitária. 14.900 casos de recusa à ajuda humanitári para crianças e adolescentes aconteceram no período de análise. Segundo a instituição, isso "inclui a privação intencional ou impedimento de assistência humanitária essencial para a sobrevivência de meninas e meninos pelas partes em conflito".
O Unicef ainda informou que o número de atrocidades cometidas contra os menores nesses países em conflito pode ser bem maior, devido à dificuldade que aos sobreviventes encontram em fazer as denúncias, motivados pelo medo de retaliações, pela vergonha e pela falta de segurança.
Ações específicas
Muitas ONGS e outras instituições realizam inúmeras ações específicas para ajudar as crianças em áreas de guerra. Um trabalho oculto, delicado e importantíssimo. O próprio Unicef informa que, juntamente com parceiros, interage com as partes em conflito para garantir o direito de crianças e adolescentes.
Entre outras ações, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre disponibilizou mais de 100 voluntários do escritório da ACN na Polônia para trabalhar na região de fronteira com a Ucrânia desde que a invasão russa começou. Eles distribuem roupas, comida e até brinquedos para as crianças refugiadas.
Já no Sudão do Sul, a Igreja tem um projeto para ajudar crianças-soldado, que foram treinadas para matar, a voltarem ao convívio social. Clique aqui e conheça mais sobre esta inestimável ação.