O Papa Francisco afirmou após a oração do Angelus deste domingo, 21 de agosto de 2022, que acompanha com preocupação e tristeza a situação da Nicarágua, onde a Igreja tem sido alvo de perseguição por parte da ditadura de Daniel Ortega.
Afirmou o pontífice:
O Papa Francisco, de fato, vinha sendo injustamente criticado por católicos e não-católicos por seu silêncio sobre a situação na Nicarágua.
"Silêncio papal não significa inatividade"
A Aleteia conversou com o professor Rodrigo Guerra López, secretário da Comissão Pontifícia para a América Latina. Ele faz parte do grupo de personalidades, incluindo o cardeal nicaraguense e arcebispo de Manágua, Leopoldo Brenes, que buscam encontrar uma solução para o caso de Dom Rolando Álvarez.
Dom Rolando, que é bispo de Matagalpa e forte crítico de Ortega, permaneceu preso e vigiado pela polícia na cúria episcopal durante 15 dias. Na última sexta-feira, 19, ele foi retirado do local pela polícia e levado para Manágua, a capital do país, onde permanece em prisão domiciliar. Os sacerdotes e leigos que estavam com ele tiveram como destino o presídio "El Chipote", para onde são levados os opositores da ditadura.
O secretário falou sobre o silêncio temporário do Papa neste caso:
"Um silêncio papal não significa inatividade ou falta de decisão, não, nada disso; significa que eles estão trabalhando em outros planos. E no momento que o Santo Padre achar conveniente, é claro, ele terá uma intervenção", assegurou López.
O professor acrescentou: "O silêncio orante do Papa nunca é um silêncio apático, mas sim o silêncio de um pastor que zela pelo seu povo diante das posições ideológicas".
A diplomacia da Santa Sé
O secretário também explicou que a Santa Sé trabalha nestes cenários de "situações complicadas" de forma concreta. "Na Nicarágua não há núncio apostólico, mas a operação diplomática com seu equivalente está em andamento através do cardeal Brenes e algumas outras pessoas, inclusive eu. Estamos no negócio", afirmou.
Pesar palavras e gestos, de fato, é um dilema difícil para a Santa Sé e a Igreja na América Latina. "Nesse tipo de tensão também há grupos que se polarizam e acreditam que a coragem se identifica com hiperproeminência e exaltação. E não é assim. Aqui é preciso, sobretudo, se preocupar para que o povo não seja sacrificado ou prejudicado. E uma declaração exaltada nesses contextos pode facilmente levar a consequências indesejáveis", explicou López.
Organizações internacionais condenam perseguição na Nicarágua
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que "está muito preocupado com a grave obstrução do espaço democrático e cívico na Nicarágua e pelas recentes ações contra organizações da sociedade civil, incluindo as da Igreja Católica". A informação foi dada pelo porta-voz na Organização das Nações Unidas, Farhan Haq.
Guterres reiterou seu apelo ao governo de Daniel Ortega para garantir "a proteção dos direitos humanos de todos os cidadãos, em particular os direitos universais de reunião pacífica, liberdade de associação, pensamento, consciência e religião". O secretário também pediu a libertação de todas as pessoas presas arbitrariamente.
Da mesma forma, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou "a escalada na repressão contra membros da Igreja Católica na Nicarágua e exorta o Estado a cessar imediatamente esses atos".
Conferências episcopais de vários países também se solidarizaram com os católicos da Nicarágua.