O belga Paul Ilegems, professor de História da Arte e fundador do Museu da Batata Frita (Friet Museum), afirma que, quase com certeza, quem inventou esse prato que é praticamente uma unanimidade em todo o planeta foi ninguém menos que uma santa católica: a mística espanhola Santa Teresa de Jesus, também conhecida como Santa Teresa d'Ávila.
Ilegems se baseia numa carta de 19 de dezembro de 1577, enviada por Teresa à madre superiora do convento do Carmo em Sevilha. Na missiva, a reformadora carmelita agradece pelo envio das batatas e de outras hortaliças, registrando: "Recebi as batatas e a vasilha com sete limões. Chegou tudo certo".
A tese do professor belga, porém, não conta com a mesma unanimidade de que gozam as batatas fritas.
Controvérsias
O jornalista e crítico gastronômico Cristino Álvarez, por exemplo, discorda que Teresa tenha criado o prato porque, segundo ele, a batata mencionada pela religiosa seria "a chamada batata de Málaga, um tubérculo trazido por Cristóvão Colombo do Haiti na sua primeira viagem. Foi preciso esperar meio século para se ter notícias da batata propriamente dita".
No entanto, vale observar que a batata, originária da Cordilheira dos Andes, foi introduzida na Europa ao longo da década de 1570, a começar pela própria Espanha. Ou seja, existe, sim, a chance de que Teresa a tenha conhecido e resolvido fritá-la. De fato, em 1573, o livro de registros de um hospital espanhol informa ter recebido um envio de batatas de um convento das carmelitas descalças de Santa Teresa D'Ávila.
Belgas e franceses no páreo
Como quer que seja, Paul Ilegems também considera uma segunda hipótese: que as batatas fritas tenham sido inventadas por pescadores belgas acostumados a fritar peixes; ao conhecerem as batatas vindas da América do Sul, em 1650, teriam simplesmente aplicado a elas a mesma técnica. Até hoje, os belgas se orgulham de serem os inventores da batata frita, que é considerada um prato típico do país.
Acontece que os franceses também atribuem a si próprios a invenção desse prato - que, não por acaso, é chamado em inglês de "french fries", ou "fritas francesas". Há quem garanta que, no final do século XVIII, em Paris, vendedores de batatas fritas já preparavam a iguaria na frente dos clientes.
Os belgas retrucam que o termo "french fries" se popularizou na língua inglesa durante a I Guerra Mundial, porque os soldados da Bélgica ofereciam batatas fritas aos norte-americanos. Como os belgas falavam francês, os americanos teriam começado a se referir ao prato como "french fries" simplesmente por causa disso.
Os norte-americanos e uma nova versão
Falando em norte-americanos, as batatas conhecidas como "chips", que são aquelas cortadas fininhas em formato arredondado, são reivindicadas justamente por eles. Em 1853, elas teriam surgindo acidentalmente num restaurante de Nova Iorque, onde o chef, recriminado por um cliente por não cortar as batatas numa espessura suficientemente fina, resolveu servir-lhe batatas tão finas que ele nem conseguisse pegá-las com o garfo. No entanto, o cliente gostou tanto do resultado que a casa passou a fazer sucesso justamente graças à nova especialidade.
Uma porção de batatas e três de Santa Teresa, por favor
É pouco provável que se descubra com absoluta certeza se devemos as batatas fritas aos franceses, aos belgas ou a Santa Teresa d'Ávila.
Na persistência das controvérsias, uma boa ideia é comer uma porção de batatas fritas lendo um pouco mais sobre esta grande santa, cujo impacto na história do cristianismo é tamanho que ela foi proclamada Doutora da Igreja.
Seguem três sugestões nutritivas e bem temperadas:
A partir de texto original de Maria Paula Daud.