Durante a Idade Média, a cerveja era considerada uma espécie de pão líquido e adequada tanto para monges quanto para leigos. A bebida fazia parte da dieta de crianças e adultos, ao lado de repolho, cebola, legumes e pão. Ela custava menos e era considerada mais saudável do que a água e o leite, muitas vezes poluídos e contaminados.
O processo de fermentação eliminava bactérias, tornando a cerveja uma alternativa mais segura. A produção de vinho era muito cara nos países do norte da Europa (obviamente não era o caso no Mediterrâneo). Chá, café e chocolate ainda não haviam sido introduzidos na Europa.
No entanto, isso não significa que as pessoas não bebiam água naquela época. É verdade que, como explica Peter Konieczny, mesmo que a disponibilidade e a qualidade variassem em função de diversos fatores, como localização, classe social e acesso a recursos, a água ainda era a bebida mais consumida por pessoas de todas as classes sociais durante a Idade Média. Estava prontamente disponível em poços, nascentes e rios. Nas áreas urbanas, as pessoas geralmente obtinham água de poços comunitários espalhados pelas cidades. Nas áreas rurais, os moradores dependiam de fontes naturais, como riachos e rios.
Além disso, como Konieczny corretamente coloca, “textos religiosos medievais também mencionam água potável. Alguns relatos hagiográficos revelam que os santos se abstinham de bebidas alcoólicas e bebiam água. Algumas das comunidades monásticas mais austeras também defendiam a ingestão da água.”
Mais uma vez: a água potável nem sempre era limpa ou segura para consumo. Poluição e contaminação eram problemas comuns, especialmente em áreas densamente povoadas. Muitas cidades careciam de sistemas de saneamento adequados, e os resíduos muitas vezes acabavam em fontes de água. Essa contaminação poderia levar à propagação de doenças como disenteria, cólera e febre tifóide. Para mitigar esses riscos, as pessoas costumam ferver a água antes de bebê-la. Mesmo que eles não entendessem nada de bactérias, era de conhecimento comum que o calor poderia tornar a água mais segura para beber.
Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas era generalizado. Muitos preferiam a cerveja à água devido ao menor risco de contaminação. O processo de fermentação envolvido na fabricação da bebida a tornava mais segura para o consumo do que a água não tratada.
Os mosteiros, inclusive, produziam cervejas leves a partir de aveia para alimentar as crianças em orfanatos. Além disso, observou-se que a cerveja prevenia e curava certas doenças infantis, que agora sabemos ser devido às suas propriedades antibióticas. Por todas essas razões, os mosteiros a produziam regular e abundantemente.
Além da água e das bebidas alcoólicas, as pessoas também consumiam outras bebidas, como chás e infusões de ervas. Estes eram frequentemente feitos de uma variedade de plantas, flores e especiarias, e acreditava-se que tivessem propriedades medicinais.
Vale a pena notar que os hábitos e práticas de consumo de água na Idade Média podem diferir significativamente de um lugar para outro e de um século para o outro. Fazer declarações generalizadas sobre esse período pode levar a mal-entendidos, erros e simplificações excessivas.