Na Nigéria, 13 paróquias da diocese de Makurdi foram fechadas na última década devido ao aumento dos ataques a localidades de maioria cristã. A diocese fica no estado de Benue, no centro da Nigéria, que é alvo frequente de violência e perseguição religiosa.
O arcebispo da diocese, Winfred Anagbe, e o padre Remigius Ihyula, que dirige a Fundação Justiça, Desenvolvimento e Paz, descreveram a situação em entrevista à edição americana da Aleteia. Em 2022, 93 vilarejos nesta parte da Nigéria foram alvos de ataques dos pastores fulanis, que deixaram 325 agricultores cristãos mortos. Os pastores fulanis estão muito bem armados, segundo padre Ihyula, e operam na maior parte do tempo com fuzis AK-47 e facões. A diocese de Makurdi está se mobilizando mais do que nunca e abrindo vários campos que abrigam milhares de deslocados e desenraizados pela violência.
"Todas essas aldeias, por medo, foram evacuadas e transferidas para as aldeias vizinhas para segurança", disse o padre. "Estamos falando de milhares de pessoas migrando porque temem que o próximo ataque as mate. Infelizmente, o êxodo não necessariamente faz você se sentir mais seguro", lamenta o padre Ihyula. "Mesmo aqueles que fogem e acabam em campos de deslocados internos estão frequentemente em risco. Os pastores, às vezes, encontram maneiras de atacá-los nos acampamentos e matá-los", disse o sacerdote.
Perseguições aos cristãos
Além disso, muitos que sofreram ataques dos fulanis, particularmente aqueles que viram entes queridos mortos, sofrem de transtorno de estresse pós-traumático. Um sentimento geral de desespero surge porque as pessoas não sabem quando poderão voltar para casa, conforme explica o padre Ihyula.
Por sua vez, o bispo Anagbe contesta fortemente as últimas afirmações do governo nigeriano de que a principal razão para a escalada dos ataques é a mudança climática, que está pressionando os pastores a buscar novas áreas de pastagem para seus rebanhos. “Vai além das questões climáticas, porque as questões climáticas não são apenas um problema nigeriano; são um problema global”, afirma o bispo, para o qual se trata sobretudo de perseguições dirigidas expressamente contra os cristãos na Nigéria.
“Não são apenas confrontos entre agricultores e pastores (…). Considero essas matanças uma expansão do território dos muçulmanos, que para mim é uma guerra religiosa. Seus ataques são tais que igrejas são destruídas, cristãos são mortos. É um claro desejo de islamização", afirma o bispo.
Para Anagbe, o aumento exponencial dos ataques contra vilarejos cristãos em Benue é também resultado de uma grave falta de reação do governo. “Acho que não é falta de habilidade, mas de vontade”, afirma.
O novo presidente da Nigéria, Bola Ahmed Adekunle Tinubu, foi eleito em março. "Temos um novo governo agora e, como cristãos, estamos esperançosos. Oramos para que ele aja e adote uma abordagem diferente", esclareceu o bispo.
O país mais perigoso para os cristãos
Pelo menos 52.250 cristãos foram mortos nos últimos 14 anos na Nigéria, de acordo com a ONG nigeriana Intersociety. De 1º de janeiro a 10 de abril de 2023, 1.041 cristãos perderam a vida no país. Somente em 2022, mais de 5.000 cristãos foram assassinados, tornando a Nigéria o país mais perigoso do mundo para os cristãos.
Além dos massacres cometidos pelos pastores fulanis, os grupos islâmicos, como o Boko Haram, contribuem para desestabilizar fortemente a segurança do país.