Aos 78 anos de idade, o cardeal Robert Sarah, prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, está lúcido e até um pouco pessimista. Segundo ele, “o homem está espiritualmente falido”. Esta é a observação que ele fez em 26 de junho de 2023 durante uma conferência intitulada “Testemunhas da verdade em um mundo em crise”, proferida na Universidade La Salle, na Cidade do México.
Para ele, o mundo está em crise, não porque seja indiferente a Deus, mas porque declarou guerra à Criação. O cardeal Sarah afirmou que a crise espiritual que o mundo atravessa hoje se deve ao fato de que muitos se esqueceram de Deus, preferindo os prazeres efêmeros e o bem-estar humano, essencialmente material e terreno. "Espiritualmente, o homem está falido", lamentou. “O homem moderno travou uma guerra terrível contra Deus e contra o homem: uma guerra satânica”, acrescentou.
O cardeal Robert Sarah destacou as contradições inerentes a “este homem que afirma cuidar da ecologia e defender o meio ambiente, mas que, ao mesmo tempo, defende o aborto, a eutanásia e a homossexualidade; este homem que diz lutar contra a mutilação genital, mas que,ao mesmo tempo, promove a mudança de sexo com mutilações mais nocivas; este homem que luta para proteger a natureza, mas que, ao mesmo tempo, destrói o homem, o casamento, a vida, e se nega a aceitar sua própria identidade de homem ou de mulher”.
Única solução e vários remédios
O religioso ainda perguntou: "Nós realmente acreditamos que matar uma criança inocente é uma coisa boa? Deus nos criou homem ou mulher e hoje dizemos que todos podem escolher ser homem ou mulher”. Por fim, assinalou que “queremos fazer do homem uma máquina, um super-homem, talvez nos iludirmos, tornando-nos imortais, invencíveis, superinteligentes, superpoderosos, fazer do homem um Deus”.
Diante deste vazio espiritual - acredita o cardeal Sarah - é urgente "retirar-se do mundo para estar longe de seus ídolos, de suas ideologias anticristãs e destruidoras do homem", não por desprezo à criação e às nossas sociedades, mas para "buscar a verdade de Deus e do homem".
Para o cardeal Sarah, isso passa pelos seguintes remédios:
1A Palavra de Deus
Ele convida os católicos a “retirar-se para o deserto” para reaprender o básico, ou seja, o monoteísmo. “Longe de todas as distrações, aprendemos a descobrir a nós mesmos e a Deus, nossa dependência Dele, a realidade de nosso pecado e nossa necessidade de Sua graça e misericórdia”. “Nossa principal arma na guerra espiritual é a Palavra e por isso devemos conhecê-la muito bem”.
2A oração e os sacramentos
“A outra arma fundamental é a oração. O Papa Bento XVI nos deu uma grande lição sobre o poder da oração em seus últimos dez anos de vida”, recordou. Assim, o cardeal nos encoraja a não deixarmos de rezar, mas também a ir à missa e a se confessar: “Os sacramentos são o dom mais precioso que Deus deu à sua Igreja. Hoje precisamos urgentemente recuperar esses dons divinos”, disse ele.
3O silêncio
O cardeal Sarah insistiu no silêncio para entrar na presença de Deus com o coração. “Em silêncio, entramos na presença de Deus em nossos corações. No silêncio, todos os ruídos, distrações e até as preocupações mais legítimas são oportunamente relativizadas, colocadas em relação à Cruz e ali aparece a luz do Evangelho. Lá, tudo é oferecido a Deus, inclusive nós mesmos."
4A guerra espiritual
“O combate espiritual contra o mal faz parte da vida cristã”, disse cardeal. “A luta atual e cotidiana se dá nos corações e é, como diz São Paulo, contra os espíritos do mal. Os demônios buscam a todo custo minha ruína e meu afastamento de Deus”. É por isso que o cardeal exorta a não desanimar e a descobrir a grandeza do homem quando se ajoelha humildemente diante de Deus para adorá-lo. “É imperativo hoje disciplinar a mente e o coração, fixando o olhar na Cruz”.