Após sua reunião em Moscou, em 29 de junho de 2023, com o Cardeal Matteo Maria Zuppi, Arcebispo de Bolonha, o Patriarca Kirill deu as boas-vindas à "mediação" da Santa Sé e assegurou-lhe seu apoio na busca "por uma paz justa o mais rápido possível", informa o site do patriarcado de Moscou. O Kremlin, por sua vez, indicou que nenhum acordo havia sido alcançado após as reuniões entre o cardeal italiano e os representantes políticos russos. A Santa Sé anunciou que os "resultados" dessa missão em favor da paz seriam apresentados ao Papa.
O chefe da Igreja Ortodoxa Russa recebeu o enviado do Papa Francisco - que lhe confiou uma "missão" em favor da paz - no mosteiro de São Daniel, em Moscou. Ele destacou os grandes perigos que o conflito na Ucrânia representa atualmente e afirmou que as Igrejas "podem, por meio de seus esforços conjuntos, evitar um desenvolvimento negativo na situação política e servir à paz e à justiça". Ele pediu que as comunidades cristãs ocidentais e orientais "participem do processo de reconciliação".
Um dos principais apoiadores de Vladimir Putin desde o início da invasão russa na Ucrânia, onde parte da Igreja Ortodoxa Russa se separou de seu patriarcado para criar a Igreja Ortodoxa Ucraniana em 2018, Kirill denunciou a "perseguição" a que estão sujeitas as comunidades ortodoxas que permaneceram fiéis a ele na Ucrânia. Ele também disse que estava "profundamente" magoado com o "sofrimento do povo ucraniano".
Depois de transmitir as saudações do Papa Francisco ao patriarca, o Cardeal Zuppi pediu uma intensificação do diálogo entre as duas Igrejas, conforme relatado pelo patriarcado. "Como cristãos, precisamos nos ajudar mutuamente a entender como agir", disse ele.
Os interlocutores reconheceram que era importante para eles "se concentrarem na solução de problemas humanitários na situação atual". Eles concordaram em "continuar as discussões".
Além do Patriarca e do Cardeal, participaram da reunião o Metropolita Antônio de Volokolamsk, o "Ministro das Relações Exteriores" do Patriarcado, seu braço direito Arquimandrita Philaret e o Arcipreste Nicholas Balachov, conselheiro do Patriarca de Moscou. Do lado "romano" estavam o núncio na Rússia, Dom Giovanni D'Aniello, seu "número 2", Dom Piotr Tarnawski, Dom Paul Butnaru, da Secretaria de Estado, e o professor Adriano Roccucci, vice-presidente da comunidade de Sant'Egídio.
O Patriarca Kirill elogiou o trabalho dessa associação católica italiana, da qual o Cardeal Zuppi foi um dos primeiros membros, destacando o papel "positivo" que ela desempenhou no passado ao manter "vínculos estreitos" com a Igreja Ortodoxa Russa durante a Guerra Fria. Sant'Egidio, uma comunidade católica italiana fundada em Roma na década de 1960, está fortemente envolvida no diálogo inter-religioso e na defesa da paz, o que às vezes lhe rendeu o apelido de "Nações Unidas de Trastevere" (o distrito romano onde foi fundada).
Kremlin: sem "decisões ou acordos concretos"
Durante sua estada em Moscou, que terminará na tarde de 30 de junho, o cardeal Zuppi pôde se encontrar com vários representantes russos, mas não com o presidente Vladimir Putin. Durante sua visita a Kiev em junho passado, o cardeal foi recebido pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Na capital russa, entretanto, o cardeal pôde se encontrar com o assessor do presidente para assuntos internacionais, Yuri Ushakov, e com a comissária presidencial para os direitos das crianças, Maria Lvova-Belova.
Após as reuniões, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que nenhuma "decisão ou acordo concreto" havia sido alcançado nas reuniões, mas que as partes haviam "trocado opiniões e informações sobre questões humanitárias no contexto dos assuntos ucranianos". Maria Lvova-Belova não fez nenhuma menção a um acordo sobre o retorno das crianças ucranianas - de acordo com Kiev, Moscou deportou 16.000 delas.
O ícone de São Vladimir de Kiev
O cardeal tentou "identificar iniciativas humanitárias que poderiam abrir o caminho para a paz", anunciou o Escritório de Imprensa da Santa Sé em uma breve declaração descrevendo as etapas da viagem. O arcebispo de Bolonha apresentará agora ao Papa os "resultados" de sua estadia em Moscou, antes de considerar outras iniciativas "tanto em nível humanitário quanto na busca de caminhos para a paz".
Durante sua viagem, o presidente da Conferência Episcopal Italiana prestou homenagem diante de um ícone de Nossa Senhora de São Vladimir I, encomendado por esse príncipe de Kiev que se converteu ao cristianismo em 988, tornando-se o fundador da ortodoxia russa e ucraniana. O cardeal confiou sua missão à Virgem Maria representada nesse ícone, que é particularmente venerado por ser o mais antigo da tradição russa.