Ao se traduzir a Bíblia para outras línguas, encontram-se às vezes palavras que não podem ser traduzidas com precisão, porque envolvem termos com múltiplos significados.
Uma dessas palavras aparece no Evangelho de Mateus, quando Jesus conta aos seus discípulos uma parábola sobre “talentos”.
Segundo a parábola (cf. Mateus 25,14-15), um homem que ia viajar chamou os seus servos e lhes confiou a gestão dos seus bens, dando a um deles cinco talentos, a outro dois e ao terceiro apenas um - em cada caso, de acordo com a capacidade do respectivo servo.
Normalmente, em várias línguas da atualidade, entendemos por talentos certas habilidades específicas que alguém possui - e que precisam ser ensinados e cultivados para chegarem ao nível da excelência. De fato, muitos padres recorrem a esta passagem para falar sobre os talentos entendidos com este sentido, já que o significado da parábola de Jesus realmente ampara essa interpretação. No entanto, não é exatamente a esse tipo de talento que Jesus se referia.
Então do que Jesus está falando ao contar essa parábola?
O talento aludido na Bíblia era uma medida hebraica para pesar metais, frequentemente usada em referência a dinheiro.
Alguns versículos do mesmo Evangelho de Mateus, ao darem andamento à parábola contada por Jesus, confirmam este significado. Lemos, assim, que o servo que recebeu um só talento cavou um buraco no chão e o enterrou: fica bem claro que se tratava do dinheiro de seu amo, já que este, ao retornar, o repreende porque deveria tê-lo depositado no banco para que rendesse juros.
Segundo o Tesouro Bíblico Ilustrado, 3.600 siclos equivalem a um talento. Ou seja, um único talento representava uma grande quantia de dinheiro, o que pode ajudar-nos a entender a parábola de Jesus, o grau de confiança do amo em seus servos ao lhes confiar tais quantias e as implicações das escolhas de cada servo quanto à gestão dos valores que lhes tinham sido confiados.