Mesmo que você não tenha consciência disso, você usa um significativo número de termos gregos ao falar em português.
Por exemplo, se você reconhece que a sua letra é ilegível e decide melhorar a sua caligrafia, você está falando grego sem perceber: "caligrafia" vem das palavras gregas "kalós", que significa "belo", e "graphein", que significa "escrever". Se você não está se sentindo bem e pensa em consultar um gastroenterologista, você está mais uma vez falando grego: "gastro" vem do termo grego para "estômago", enquanto "enteron" se refere, de modo geral, aos "intestinos". E, mesmo que você esteja habituado a ler artigos em Aleteia, é possível que não saiba que "aletheia" quer dizer "verdade", também em grego.
Tudo isto significa que, se algum dia você resolver aprender grego, não começará do zero. Ao contrário: você perceberá que já possui um vocabulário grego básico bem mais amplo do que imaginava.
Isto é particularmente verdadeiro se você é cristão, já que os Evangelhos foram escritos em grego e muitas palavras usadas na liturgia, na oração ou na cultura cristã vêm diretamente dessa língua. Já parou para pensar, por exemplo, na origem da palavra "eclesiástico"? Pesquise-a!
Seguem-se aqui três termos teológicos gregos que podem ajudar você a entender um pouco melhor a sua fé.
Oikonomia
Derivada do grego "oikos" (casa) e "nomos" (lei), deu origem ao termo "economia" - mas se refere a muito mais do que à simples administração quotidiana dos recursos. Na teologia cristã, refere-se à economia divina, ou seja, à gestão do mundo por parte de Deus, assim como ao Seu plano de salvação - que se desenrola através de eventos históricos importantes. A Encarnação, a Crucificação e a Ressurreição são elementos integrantes deste arranjo ordenado, refletindo o desígnio de Deus de levar a humanidade a uma comunhão perfeita com Ele.
Parousia
No original grego, o termo que adotamos como "parusia" se refere à noção de presença (traduz-se, literalmente, como "estar presente"). Neste sentido, diz respeito à Segunda Vinda de Jesus. Por razões óbvias, o termo ocupa um lugar central nas discussões escatológicas dentro do catolicismo – e no cristianismo em geral. Compreender a noção de parusia exige uma apreciação da sua utilização no contexto cultural e textual dos Evangelhos, enfatizando a vigilância e a prontidão exigidas dos crentes enquanto aguardam a culminação do reino de Deus – isto é, a conclusão do "plano econômico" de Deus.
Paráclito
Deriva diretamente do grego "parakletos". A palavra é composta por dois elementos: "para", que significa "ao lado", "próximo" (repare que "parousia" também é composta pelo elemento "para", embora ele tenha perdido o segundo "a" por razões fonéticas); e "kletos", que deriva do verbo "kalein", "chamar". Um "parakletos" é alguém "chamado a estar ao nosso lado" – alguém que está presente, um ajudante e, em sentido alargado, um defensor. Desnecessário dizer que o termo carrega um profundo peso teológico no catolicismo. O Espírito Santo Paráclito é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, enviado por Cristo para guiar, auxiliar e defender os crentes. Uma compreensão matizada do papel do Paráclito requer uma exploração do seu uso no Evangelho de João, onde Jesus promete a vinda deste Ajudante para sustentar, confortar e defender os discípulos.