Em declarações à Rádio Gaúcha, dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), declarou que alguns ambientes religiosos sofrem "as consequências de um moralismo exacerbado". Ele afirmou que "a moral é importante, a moral faz parte do convívio social e marca uma ou outra tradição religiosa de uma forma característica", mas acrescentou que "não podemos cair em moralismos exacerbados que não levam a nada, excluem".
Participando do programa radiofônico Gaúcha Atualidade, dom Jaime falava da recente declaração "Fiducia supplicans", do Dicastério para a Doutrina da Fé. Aprovada pelo Papa Francisco e publicada neste 18 de dezembro, a declaração autoriza que padres concedam bênçãos a casais em situação irregular e a parceiros homossexuais, desde que se distinga entre bênçãos pastorais e bênçãos litúrgicas - estas últimas não podem ser dadas a pessoas nas situações mencionadas. Saiba mais sobre a declaração e seu conteúdo acessando os seguintes artigos com esclarecimentos de sacerdotes brasileiros:
Para dom Jaime, o discernimento é imprescindível:
"Eu faço uma pergunta muito simples, que me orienta e orienta também a ação: são pessoas? Se são pessoas, merecem o nosso respeito também. E quando se aproximam pedindo uma bênção, eu imagino que buscam também uma palavra de conforto, de esperança e talvez o desejo até de fazer frente à própria situação que vivem. Nós não podemos negar! Agora, também não podemos compactuar, digamos assim, com o comportamento que vai contra aquilo que para nós são valores fundamentais: o respeito pelo outro, o respeito pelo próprio corpo, o respeito pela própria individualidade".
O arcebispo também falou do batismo de crianças adotadas por parceiros homossexuais:
"Para nós, católicos, o batismo é um direito da criança, não do pai ou dos pais, ou da mãe ou das mães. É um direito da criança e não podemos negar".
Dom Jaime finalizou:
"Mesmo diante destas questões polêmicas, eu diria assim, somos instigados a pensar e buscar saídas de uma forma ainda mais radical no sentido de construção, de compreensões, que possam vir de encontro a toda necessidade autenticamente humana. Na nossa atividade, seja como religiosos, mas seja também na sociedade civil, que tem o cristianismo, a experiência judaica e cristã, não podemos pensar que estamos nos ocupando com anjos".