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Como educar os gostos do seu filho para a cultura e a arte?

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Edifa - publicado em 29/09/20
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Todos os pais desejam conduzir seus filhos para o bem, mas e o belo? Mesmo que às vezes seja trabalhoso, proporcionar oportunidades de contemplar a beleza em família pode ser uma fonte de verdadeira alegria e uma boa maneira de elevar a alma tanto dos pequenos quanto dos mais velhos

Celeste, de 5 anos, foi ver os fogos de artifício com os pais. Deslumbrada, ela exclamava: “Que lindo!” E então, em tom de censura: “Por que você não me mostrou isso antes?” Desde muito cedo, a criança tem a capacidade de se maravilhar, de parar diante de uma folha de árvore, uma pedrinha que brilha depois que a chuva passa, um fogo a lenha, um rosto luminoso. Se essa forma de ver o mundo não for mantida, o olhar da criança pode se tornar desbotado com o tempo. Para Aude de Kerros, pintora e mãe “hoje em dia temos a impressão de viver num mundo de cegos. Estamos rodeados de imagens e, no entanto, elas apenas passam, porque não são decifradas. Diante de uma pintura, não nos perguntamos mais o que ela significa”.

A beleza está ao alcance de todos

Na educação da beleza, o papel dos pais é essencial. “Seria inaceitável negar à criança o dom do olhar”, diz Jean-François Kieffer, cartunista e criador de Loupio (cartoon francês). Precisamos primeiro identificar a forma como a criança percebe o mundo. Algumas têm uma maior percepção visual, outros, sensibilidade auditiva. Assim, Francisco, personagem do cartoon, fica fascinado pelas cores de um campo de tulipas, enquanto seu irmão joga bola sem nada observar. Mas, ao chegar em casa, é o jogador de futebol em formação que vai parar, atraído por uma música. Não faz sentido cercar uma criança com telas de pintura se ela é na verdade sensível aos sons.

E onde encontrar a beleza? Por toda parte! Inclusive na nossa vida cotidiana. “Até na publicidade há coisas bonitas”, diz Jean-François Kieffer. “Durante as férias, fazer um desvio para observar uma oficina de oleiro permitirá admirar a beleza das formas. A natureza em desenvolvimento também é fascinante. Por que não convidar as crianças a plantarem uma roseira, um feijão, uma fruteira, e com elas admirar o crescimento de folhas, botões e flores? Por sua vez, as maiores descobrirão, talvez com bastante interesse, a harmonia do movimento das estrelas, a proporção de uma estrutura molecular. Fotos, filmes, pinturas, música – tantos assuntos maravilhosos para compartilhar!”.

Mas a beleza não reside apenas nas coisas, as crianças sabem reconhecê-la nos gestos, nas atitudes, pois a bondade, a ternura e delicadeza brilham aos olhos. Em “A Música de uma Vida” (em tradução livre), Andréï Makine conta como passou uma noite na sala de espera de uma estação de trem na Rússia. Contemplando seus companheiros de infortúnio, ele nota apenas a feiura e os roncos. Até que percebe o único lampejo de luz em meio a essa escuridão: uma mãe amamentando seu filho.

Como familiarizar nossos filhos com a beleza?

Se os pais caminham por um museu ou uma exposição e permanecem indiferentes ao que veem, os filhos percebem”, observa Flore Talamon, escritor de quadrinhos. A atração pelo belo se transmite sob a condição de que se goste do que se mostra. Um conselho para evitar fracassar nessa missão é tentar ir ver as exposições com antecedência ou, pelo menos, pensar nas ligações que aquela exposição terá com os personagens já conhecidos pelos filhos. Nada pior do que um passeio que gera mau-humor, zombarias ou tédio.

Durante as férias, a família fica mais disponível. Para Anne Renon-Barek, mãe de três filhos, artista plástica e professora de artes plásticas, “uma noite de verão em um barco é um momento fabuloso de contemplação”. “É preciso mostrar as belezas do mundo”, sublinha Aude de Kerros, que há muito caminha na natureza e em museus com os filhos. O mesmo pensa Flore, para quem a escultura é uma boa forma de despertar o interesse das crianças pela arte: “Uma estátua é algo vivo. Quando olhamos para ela, podemos imaginar e sonhar”. Construir uma história infantil sobre o belo é uma maneira fácil e divertida de cativar as crianças. Aude de Kerros aprendeu mitologia para explicar as estrelas e botânica para contar sobre a origem das plantas aos seus filhos.

Passeios diferentes

Mas cuidado com a overdose!” diz Florence, mãe de sete filhos. “Sempre nos certificamos de sair do monumento ou do museu antes que as crianças fiquem saturadas”. “Quando visito uma exposição com os meus alunos, levo-os para ver um único quadro, no qual podemos trabalhar”, confirma Anne Renon-Barek. Outro imperativo: leve em consideração a condição física das crianças. Uma criança com fome não vai conseguir apreciar quadros em um museu. Nesse caso é melhor evitar o estresse e ir fazer um pequeno lanche!

Hoje em dia, os museus se adaptam às crianças e costumam criar passeios diferentes onde, muitas vezes, guias específicos são oferecidos. Um passeio bem preparado é garantia de sucesso. A Internet é muito útil, assim como os guias culturais específicos para passeios infantis. Eles oferecem os melhores planos sobre o que visitar, fornecem uma riqueza de informações.

Mas isso não dispensa a “preparação caseira” quando possível, que pode ir desde folhear um catálogo de uma exposição até ouvir uma das peças que serão tocadas em um concerto. Já ter visto ou ouvido ajuda a focalizar a atenção. Uma iniciação ao que se pretende mostrar é essencial para formar o interesse! “Até uma peça de Molière requer algumas explicações para uma criança”, observa Flore. Que acrescenta: “Escolhemos as nossas exposições com base nos interesses da família. Para o meu filho de 5 anos, por exemplo, no momento, são os animais e a caça”.

Como formar um bom julgamento?

Amar o belo é também e sobretudo fruto de uma fecundação. Na casa dos Kieffer, as cinco crianças aprenderam sobre a beleza do mundo e da vida cotidiana. Colocar um jogo de mesa bonito, apresentar bem um prato, fazer buquês de flores, cantar ou ouvir música, todas essas pequenas coisas marcam as crianças.

Não é fácil, comenta Aude de Kerros: “Numa época dominada pelo conforto e pela recusa das contrariedades, a beleza está no exílio, porque ela requer, se não um esforço, pelo menos uma atenção”. “Sempre ouvi dizer que a elegância é uma caridade para os outros”, diz Florence. Não se trata de estimular a vaidade, mas, diz Jean-François Kieffer, “é importante dar roupas bonitas aos nossos filhos, tratar dos seus dentes, e outros cuidados”. Cabe também a cada um encontrar uma maneira de se vestir que ressoe profundamente com quem ele/a é.

A observação desempenha um papel importante. Anne Renon-Barek relata a reação de Henri, de 4 anos, quando viu a lua em uma noite de verão: “Olha mamãe, encontramos a lua!”. “Eu incentivei o fato dele ter ficado maravilhado, observando as formas da lua junto com ele. Expliquei-lhe também que, apesar de sua intensidade luminosa, a lua era uma estrela que nunca se aquece”.

Treinamento e disciplina

Precisamos ensinar nossos filhos a formular o porquê de seu gosto ou atração por determinada coisa. “Eu presto muita atenção à precisão do vocabulário deles”, explica Anne Renon-Barek. O belo emite um certo esplendor, uma luz que captura muito mais a nossa atenção do que algo simplesmente bonito”. “O bonito não é o belo”, complementa Jean-François Kieffer. O bonito é o que quer seduzir, a embalagem. Em nossas discussões, ajudemos nossos filhos a discernir o autêntico daquilo que é apenas chamativo. Vamos mostrar a diferença que existe entre quem tem o “look” que vende e a pessoa bonita porque doa de sua alegria, como a Madre Teresa. Em O Senhor dos Anéis, os hobbits são belos porque perdoam, mesmo que tenham pés peludos!

Apreciar o belo é como apreciar um vinho”, observa Flore Talamon. Você tem que treinar seu paladar. Com um gosto refinado, somos capazes de diferenciar os tipos de vinho. Assim também, “quanto mais temos uma cultura visual, quanto mais o olhar é exercitado, mais podemos dizer se algo é de boa qualidade ou não”, explica Aude de Kerros. O mesmo vale para a música, pois o nosso ouvido é formado e refinado. A formação do julgamento crítico é uma excelente arma para dar às crianças. Permite que eles classifiquem a multidão de imagens ou sons que experimentam.

As coisas que deixam a criança maravilhada não necessariamente nos maravilha também

Precisamos saber ouvir e estimular o gosto das crianças. Colombine, de 6 anos, é apaixonada por pedras. Embora seja algo não muito comum, sua coleção está em destaque em seu quarto, e Lucie, sua mãe, se esforça para se interessar pela descrição regular e entusiástica que ela faz sobre os minerais. Cabe aos pais garantir que a sensibilidade especial de cada criança seja expressa. Para Jean-François Kieffer, “existe um certo racismo de beleza que consiste em rejeitar o que não se faz ou o que não conhecemos”. Alguém vai gostar de um desenho simples, outro de uma linha mais carregada, mais barroca. Uma criança pode adorar abstração, embora sua família tradicionalmente goste de arte figurativa.

Lantejoulas, cores berrantes… os interesses dos pequenos muitas vezes nos desconcertam. As crianças são moldadas pelo seu tempo e pelos gostos do ambiente em que vivem. Para Flore Talamon, “não é de admirar que as meninas gostem de rosa, elas são cobertas dessa cor desde o nascimento!”, é uma questão de cultura. “Não acho que haja bom gosto ou mau gosto para crianças pequenas”, observa Flore. Feita a observação, a criança fica livre. “Tenho dificuldade em aceitar o gosto dos meus filhos”, diz Bernard, “mas sinto que se me opor a eles, eles ficarão confusos”. Podemos não gostar do que uma criança nos apresenta, mas acima de tudo, precisamos relaxar pois os gostos mudam com a idade, e com a moda!

Os mais velhos

Com crianças mais velhas, o diálogo e o humor podem ajudar a neutralizar os conflitos. A pior das ideias é julgar as escolhas deles dizendo coisas como “Suas roupas são horríveis!”. É melhor dizer com franqueza o que sentimos: “Acho que essas roupas alargam a sua silhueta”. A criança deve passar por oposições para se construir e a formação do gosto não foge a essa regra. A maturação chega no final da adolescência. Até lá é preciso ter paciência, enquanto se espera a colheita dos frutos da nossa educação cultural.

O belo, um caminho de contemplação

Por que apresentar o belo aos nossos filhos? Para Florence, “porque ele desenvolve uma abertura, uma capacidade de acolher coisas que estão além de nós”. Para perceber o belo, é preciso disponibilidade e silêncio. Certamente não é fácil quando o utilitarismo reina supremo. Mas o certo é que estar perto de coisas belas, mesmo discretas ou escondidas, contribui para a paz interior. Para Jean-François Kieffer, “o belo tranquiliza, acalma, ou melhor, eleva a alma”. Totalmente gratuito, ele é o oposto do consumível. Mesmo que às vezes seja trabalhoso, criar oportunidades de contemplar a beleza em família traz grandes momentos de alegria.

A beleza também é o meio de acessar realidades ocultas. Aude de Kerros explica: “Quanto mais as realidades são da ordem do não racional, da alma, das emoções, mais difícil é a sua transmissão. Mas através da arte isso é possível”. A arte é capaz, por exemplo, de fazer o fiel tocar nos mistérios da fé, algo que a razão dificilmente seria capaz de fazer. Ela continua: “Já disse muitas vezes aos meus filhos que o que eles veem com os olhos é apenas a pequena ponta do iceberg, um vestígio de um mundo infinitamente grande. Expliquei para eles que podemos ver através de algo, e que isso se chama “ler os sinais”, como nas vezes que deciframos os toques divinos em nossas vidas”.

Bénédicte de Saint-Germain


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