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Por que não devemos rotular as pessoas de “tóxicas”?

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Miguel Pastorino - publicado em 19/06/19
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Na maioria das vezes, nossa incapacidade de lidar com conflitos ou ser empáticos nos leva ao caminho fácil de nos livrarmos do outro com o rótulo de “pessoa tóxica”A qualidade de vida das pessoas depende da qualidade de seus relacionamentos, pois eles são a substância da vida. E a qualidade de nossos relacionamentos depende da qualidade de nossa comunicação, em todas as áreas de nossas vidas.

Atualmente, um dos grandes desafios no ambiente de trabalho é aprender a se relacionar com pessoas que são fonte de conflito constante e que são rotuladas de “tóxicas”.

Alguns autores usam o termo “pessoa tóxica” para se referir a pessoas que causam esgotamento emocional. Mas aqueles que convivem com tais pessoas costumam qualificá-las também de narcisistas, vitimistas, manipuladoras, neuróticas, agressivas e uma longa lista que mistura transtornos psiquiátricos com características de temperamento.

O adjetivo “tóxico” acaba sendo aplicado indiscriminadamente a qualquer um que tenha problemas de relacionamento ou esteja passando por um momento ruim em sua vida. Existem os que afirmam que existem “relações tóxicas”, mas não “pessoas tóxicas”.

Quando alguém é rotulado de “tóxico” em alguma área, parece ser tratado como uma espécie de “praga social” da qual devemos nos distanciar, quando muitas vezes trata-se apenas de uma pessoa passando por alguma situação crítica.

A falta de uma educação sólida das emoções e o fato de viver no meio de uma crise cultural que atinge as famílias favorece o aumento do número de pessoas com baixa auto-estima. Tais pessoas são sensíveis a qualquer comentário e tentam culpar os outros por tudo de negativo, ou ainda manifestam o desejo de controlar e manipular tudo.

Há muitas pessoas que, por não terem sido educadas dentro de limites saudáveis, não toleram a menor frustração e se tornam insuportáveis ​​para aqueles que vivem ou trabalham com elas. Mas também é verdade que qualquer um de nós, em um contexto cheio de problemas e estresse, também pode ser insuportável para os outros.

Mas nada disso significa que as pessoas, quando se tornam muito conflituosas, são algum tipo de vírus a ser evitado. Na maioria das vezes, nossa incapacidade de lidar com os conflitos ou de ser empáticos nos leva ao caminho mais fácil de nos livrarmos do outro rotulando-o de “pessoa tóxica”. Insisto, ninguém está livre de ser vítima de uma pessoa transtornada ou de um predador emocional, mas isso não significa patologizar tudo que me incomoda.

A resposta: compaixão e alegria

Compaixão é “sentir a dor do outro”, é sentir com o outro. Mas a compaixão vai muito além de compartilhar o sofrimento ou outros sentimentos dos outros, porque nos move para resgatar o outro, para compreendê-lo profundamente. As pessoas são resgatadas da solidão quando alguém se conecta com suas emoções mais profundas.

O ato de entender não é concordar com o outro no que ele pensa ou diz, mas colocar-me em seu lugar. Não apenas para entender o que diz, mas por que diz, o que diz, o que sente, tentando ir além do que percebemos. O entendimento envolve sair de nós mesmos e entrar no mundo do outro, em seus pensamentos e sentimentos, e para isso é necessário aprender a ouvir em profundidade.

Quem tem uma auto-estima saudável pode enfrentar essas situações de conflito com a paz e sem perder a alegria, pois entende que, na maioria dos casos, o que os outros atribuem a ele não necessariamente tem a ver consigo mesmo.

O primeiro e mais eficaz tom na comunicação é a alegria, é sorrir. Não o sorriso superficial, mas o que brota de dentro, por ser uma pessoa feliz. Todos estão felizes com pessoas que são realmente felizes, porque não são competitivas ou estão sempre procurando alguém para atacar com um comentário malicioso. O sorriso é gratuito e também pode desarmar.

Um sorriso sincero pode ser um alívio para um coração que está passando por um momento difícil. Aproximar-se com verdadeiro interesse pela pessoa geralmente faz com que o outro pare de ser defensivo. E assim eu posso entender que o problema não é comigo e que eu não preciso me envolver em um conflito que não tem nada a ver comigo.

Algumas dicas úteis

Amar e ser compassivo não significa expor-se desnecessariamente ao conflito. Se vemos que pessoas más estão abertas a nossa compaixão e proximidade, podemos tentar ter uma conversa que incida sobre elas, não sobre nós. Às vezes, certas pessoas nos abandonam, e temos de aceitar isso porque é sua decisão, sua liberdade.

Mas é importante que, quando você puder oferecer um diálogo com alguém conflituoso, tenha as conversas breves e suaves, não em excesso, para não gerar expectativas que depois são frustradas. Ao ouvir atentamente e orientar o outro a falar dos problemas dele, falando o mínimo possível, evitaremos interpretar erroneamente ou que a outra pessoa interprete mal nossas palavras.

Há pessoas com baixa auto-estima que sempre deixam de lado as coisas positivas para destacar um comentário negativo ou interpretação errada. Quando alguém é muito auto-referencial, ela pensa em tudo de acordo consigo mesma. Por isso é importante ser claro e conciso.

Os gestos da gratuidade diária, pequenas coisas simples, não custam nada e fazem muito bem às pessoas conflituosas. Pessoas que se sentem muito solitárias e isoladas não esperam nada de ninguém e a gratuidade tende a surpreendê-las, especialmente em um mundo dominado pela lógica do interesse.

Finalmente, é importante conhecer a si mesmo, aceitar e fortalecer sua própria auto-estima, aprendendo que nem sempre as atitudes negativas dos outros em relação a nós são baseadas em algo que fizemos. Às vezes nem têm a ver conosco. Perceber isso nos ajuda a nos distanciar e nos vermos com compaixão. Quem exerce sua liderança com amor e compaixão, ganha autoridade e liberdade.

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