Viúvo e aos 80 anos, Padre Vicente Mellilo recebeu a ordenação pelas mãos do filho, que era bispo Deu na revista O Cruzeiro, de outubro de 1968:
“Na catedral metropolitana de São Paulo, um senhor, de idade avançada, as mãos piedosamente postas sobre o peito, estola diaconal sobre a alva que lhe cobria o corpo, ajoelhou-se ante o altar-mor. À sua frente, de pé sobre os degraus, com os paramentos episcopais, Dom Aniger Francisco Maria Melillo, bispo de Piracicaba, estendeu as mãos sobre a cabeça branca do ancião, dizendo: Tu és sacerdos in aeternum. Um novo sacerdote ingressava naquele instante, nas fileiras eclesiásticas.”
Mas não foi apenas a idade avançada (80 anos) do novo padre que chamou a atenção naquela emocionante cerimônia: o bispo que realizou a ordenação era filho do padre. Isso mesmo: após ficar viúvo, Vicente Melillo decidiu seguir o sacerdócio.
A revista da época ainda narrou o momento singular tanto para o pai quanto para o filho, que dividiam o altar naquele momento:
“O neo-presbítero, a quem o bispo, tão carinhosamente, segundo a liturgia, chamava de filho, era, na realidade, o pai daquele que acabara de lhe conferir a ordenação sacerdotal. Ao final da cerimônia, Dom Aniger Francisco Maria Melillo ajoelhou-se diante de seu pai, o Padre Vicente Melillo, e beijou-lhe as mãos, que minutos antes ele ungira com o santo óleo.”
Vida e obra de Padre Vicente Melillo
Segundo o historiador Claudinei Pollesel, Vicente Melillo foi um imigrante italiano, advogado, escritor e comendador influente na sociedade paulista.
Ele chegou ao Brasil com três meses de idade e fixou residência em Campinas, no interior de São Paulo, onde casou-se e teve uma vida culturalmente ativa na cidade. Foi redator e editor de vários jornais e revistas do município.
Na década de 1920, mudou-se para São Paulo para exercer a advocacia.
Vicente Melillo foi pai de onze filhos. Entretanto, três morreram ainda muito jovens. Os outros tiveram carreiras bem-sucedidas: Vicente de Paulo, médico e professor; Aniger, 2º Bispo Diocesano de Piracicaba; Santa, poetisa; Regina, escritora; Irene, assistente social; Zuleika, religiosa da Ordem da Visitação de Santa Maria; Auta, filósofa; Pérola, professora e historiadora.
Assistência social e sacerdócio
Melillo foi fundador e membro Assistência Vicentina aos Mendigos, em São Paulo. Atuou na associação durante 30 anos. Ele também fundou um asilo na capital paulista, onde abrigava idosos, doentes e crianças abandonadas. O local chegou a ter 50 pavilhões e era um centro de ajuda a quem contraía a tuberculose.
Vicente Melillo também criou a Colônia Agrícola de Bussocaba, que prestava assistência social aos menos favorecidos. E foi lá que ele recebeu o convite para ser padre.
Durante uma visita, D. Angelo Rossi, então cardeal de São Paulo, disse que o local estava carente da presença de Deus e que Melillo seria um instrumento do Senhor, se ele aceitasse a ser sacerdote.
Claro que ele aceitou! Sua condição de viúvo permitia que ele fosse ordenado, o que de fato aconteceu.
Com autorização do Papa Paulo VI, Vicente Melillo foi dispensado dos estudos de Teologia em seminário e recebeu as Ordens Menores, o subdiaconato e o diaconato. No dia da Assunção de Nossa Senhora, ao 80 anos de idade, ele recebeu a Ordenação Sacerdotal, que lhe foi conferida pelo próprio filho, que era bispo.
Extrema Unção
O Padre Vicente celebrou mais de mil missas em três anos de sacerdócio. E foram as mãos do seu filho, D. Aniger, que lhe proferiram a Unção dos Enfermos – as mesmas mãos que o haviam ordenado padre.
Fontes:
http://www.hagopgaragem.com/familia_pe_vicente_melillo.html
http://familiapollesel.blogspot.com/2009/01/padre-vicente-melillo-heri-da-caridade.html
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