Corpo incorrupto: a notícia da beatificação de Carlo Acutis chamou a atenção da mídia laica internacional não tanto pelo testemunho de virtude e santidade do futuro beato, mas, principalmente, pela grande curiosidade quanto ao estado de conservação do seu corpo.
Carlo faleceu em 2006, aos 15 anos, em decorrência da leucemia. Após o transcurso dos anos, porém, a divulgação de imagens do seu corpo apresenta uma extraordinária preservação, que impactou crentes e descrentes e gerou uma onda de comentários nas redes sociais.
Mas o que é um corpo incorrupto?
São os corpos que a graça divina preserva da corrupção do túmulo. Acontece que essa preservação tem graus: nem todo corpo preservado revela o mesmo nível de incorruptibilidade.
Teologicamente, aliás, só existe um corpo incorrupto: o de Cristo, Nosso Senhor. O da Santíssima Virgem também foi preservado em nível extraordinário, mas pela graça do seu Filho.
Alguns santos também receberam a graça de um grau elevado de incorruptibilidade física; outros receberam essa graça em grau menos pleno. A título de comparação, é como dizer que alguém é bom: na verdade, só Deus é plenamente Bom, porque Ele é a própria Bondade. No entanto, as pessoas podem participar, em graus imperfeitos, da bondade divina: assim, algumas têm maior ou menor grau de bondade.
Mas e o corpo de Carlo Acutis, está ou não está incorrupto?
O pe. Marcelo Tenório, brasileiro, que é vice-postulador da causa de canonização do jovem italiano, declara que sim.
Ele testemunha:
"Tive a graça de vê-lo quando estava sendo tratado e preparado. Todo corpo incorrupto é arrumado, hidratado; afinal, esteve debaixo da terra por muitos anos. Não importa o grau da ação da graça: o importante é a graça. Querer ficar especulando desvairadamente essa questão evidencia uma curiosidade sem sentido algum. Perde-se o foco, que é o grande sinal que Deus nos deu: o anjo da juventude, Carlo Acutis, está intacto; porque é um sinal de que a santidade sempre vence a morte".
E ele acrescenta:
"Quanto ao grau de incorruptibilidade do corpo do Carlo, não é o mais importante. Afinal, tantos grandes santos viraram pó".
O tratamento aplicado ao rosto
O uso do termo "incorruptibilidade", porém, gera certa polêmica. Muita gente o interpreta ao pé da letra e conclui que o corpo em questão não sofreu grau nenhum de decomposição.
Por isso, Nicola Gori, postulador da causa de beatificação de Carlo, considera que não é acurado utilizar esse termo. Em conversa com a agência católica de notícias ACI Stampa, ele declarou:
"Deram muita atenção ao corpo de Carlo e ao seu estado de conservação. Mas não podemos falar de incorruptibilidade. O que vemos, no entanto, é, sim, o Carlo verdadeiro, nos seus restos mortais. E, com a sua presença, ele liberta esse desejo de olhar para Cristo, que foi o verdadeiro amigo da sua vida".
Gori explicou, em particular, que o rosto de Carlo passou por um tratamento específico antes da exposição pública do seu corpo aos fiéis. Sobre o rosto do jovem, de fato, há uma máscara de silicone. E por quê? Porque o rosto é a parte mais nobre do corpo humano e a que mais atrai as atenções. Por isso, optou-se por apresentar o corpo bem preservado do jovem e, sobre seu rosto, aplicar uma máscara que o mostrasse tal como era em vida, já que o grau de preservação da face não era total.