Aos 60 anos, ele provavelmente será uma voz forte na Igreja nos próximos anosEle é um defensor ferrenho do Estado de Direito na República Democrática do Congo (RDC), e o Papa Francisco acaba de nomeá-lo para seu conselho de conselheiros cardeais. Ao aderir ao “C7” em 15 de outubro, o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, torna-se, com apenas 60 anos, uma figura importante da Igreja Católica.
A nomeação do arcebispo congolês é um sinal claro da confiança do Santo Padre em um homem que carrega incansavelmente a voz de seu povo marcado pela miséria. Todavia, também é devido ao desejo de Roma de manter um certo equilíbrio dentro deste círculo de cardeais, com representantes dos quatro cantos do mundo. De fato, único africano e único francófono presente, o cardeal Abongo está ocupando o cargo deixado vago por seu antecessor como arcebispo de Kinshasa, cardeal Monsengwo, desde sua aposentadoria em 2018.
Capuchinho
A ascensão deste membro da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos ganhou força nos últimos três anos. Primeiramente, foi nomeado bispo em 2004 por João Paulo II, aos 44 anos. Depois atuou, em meados da década de 2010, na comissão “Justiça e Paz” da Conferência Episcopal Congolesa.
No início de 2018, foi chamado a ser bispo coadjutor de Kinshasa para apoiar o cardeal Monsengwo, então próximo da aposentadoria, e se preparar para substituí-lo. Nesse sentido, em novembro de 2018, foi empossado arcebispo da capital. Um ano depois, o Papa Francisco o elevou à dignidade de cardeal no consistório de outubro de 2019. Então ele expressou sua “surpresa” e considerou a decisão do Papa um incentivo da Igreja para que ele continuasse sua missão como pastor que “dá voz para um povo sem voz ”.
Cardeal do Congo
Este filho de um fazendeiro de seringueiras, desde muito cedo, fez da questão da justiça seu reduto. Num país marcado pela miséria social, econômica e ecológica, o teólogo moral se destacou por sua luta contra uma casta política que, junto com as potências econômicas internacionais, mantém cativas as riquezas naturais do país. “O Congo caiu nas mãos de bandidos”, denunciou ele durante a Noite das Testemunhas de 2019, organizada pela Ajuda à Igreja que Sofre em Paris.
Assim, em vez de tomar partido dos “predadores” que exploram o país, “a Igreja optou por se colocar ao lado de seu povo”, continuou o cardeal, em sintonia com o pensamento do Papa Francisco. Na verdade, é um discurso que está sendo colocado em prática. Pois, de certa forma, a Igreja Católica no Congo está compensando as carências do Estado. De fato, metade das estruturas de saúde e educacionais do país são administradas pela Igreja Católica.
Voz pela democracia
Forte oponente do regime de Kabila, que foi presidente do Congo de 2001 a 2019, o cardeal Abongo se lançou na batalha por uma transição democrática nas eleições de 2019 – em vão. Naquele momento, o arcebispo condenou a “negação da verdade” após uma votação que levou à eleição de Felix Tshisekedi em condições duvidosas.
No rescaldo deste fracasso da democracia, o jovem arcebispo escreveu no prestigioso jornal francês Le Figaro, defendendo a necessidade de a Igreja se levantar na RDC como um contra-poder. “Diante de um povo abandonado, entregue a si mesmo, apesar da abundância das riquezas do país, a Igreja tem se comportado como um bom samaritano que vem ao resgate de um povo ferido na beira da estrada, um povo que clama por ajuda.”
Enfim, esta imagem é também defendida pelo Papa Francisco que, na sua última encíclica, Fratelli tutti, dedicou um capítulo inteiro à figura do Bom Samaritano.
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