Uma pesquisa realizada em 2022 pela Universidade de Chicago apontou as profissões mais felizes ao redor do mundo, segundo os profissionais de RH. O estudo teve como base os índices que comprovam a satisfação dos profissionais, bem como salários, benefícios, autonomias e outros indicadores.
O "clero" ficou em primeiro lugar na lista das profissões mais felizes do mundo, segundo a pesquisa. Depois apareceram as seguintes ocupações (nesta ordem): bombeiros, fisioterapeutas, escritores, professores, artistas, psicólogos, corretores de serviços financeiros e engenheiros.
Felicidade e trabalho
Quem já assistiu à Missa dominical das 11h transmitida pela Rede Vida conhece o Padre Carlos Ciol, que é o celebrante neste horário. Em cada homilia que ele faz, fica estampada a felicidade que ele sente por sua vocação presbiterial.
O Pe. Carlos foi ordenado há quase cinco anos e já encontrou inúmeros desafios e oportunidades no sacerdócio. Atualmente, é pároco da Paróquia Nosa Senhora Aparecida, diocese de São José do Rio Preto, SP. Também é vigário forâneo da Forania Sagrado Coração de Jesus e desempenha um importante trabalho de evangelização em uma das maiores redes católicas de televisão do Brasil.
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Nesta entrevista para a Aleteia, Padre Carlos fala sobre os aspectos do sacerdócio que lhe trazem felicidade. Ele ainda dá um conselho essencial para quem quer ser feliz em qualquer trabalho.
Aleteia: Padre, o senhor concorda com a pesquisa que aponta as profissões ligadas ao clero como as mais felizes? A que aspecto o senhor atribuiria este resultado?
Padre Carlos: Em primeiro lugar, acredito que se faz necessário entender o contexto ou a definição de felicidade. Hoje, talvez mais do que nunca, muitos entendem a felicidade como ter uma “vida boa” sem quaisquer preocupações ou ainda que ser feliz é fazer tudo o que queremos. No entanto, ser feliz não é ter uma vida como um “mar de rosas, mas é encontrar o sentido verdadeiro para vida. Ser feliz é partilhar tudo de si para o outro, como disse o Papa Francisco “não se pode ser feliz sozinho”. Portanto, olhando para essa realidade, acredito que a vocação presbiteral seja entre outras profissões como uma das mais felizes. Pois, o padre que busca em Deus, através da vocação, a realização, a doação de si para ou outros, ou seja, que não fique fechado em suas ideias e vontades, mas que se abra para a vontade de Deus na busca também da felicidade das pessoas, certamente é feliz. O padre não é um solteirão; ele não está sozinho (embora muitas vezes nos sentimos assim).
O senhor é feliz no seu ministério?
Sim, posso dizer que sou feliz no ministério que Deus me confiou. Não sei fazer outra coisa. Não me sinto realizado fazendo ou vivendo em outras coisas fora do ministério ordenado. Amo muito o chamado que Deus me fez, a vocação que ele me chamou a viver, e procuro fazer e dar de mim aos outros da melhor forma possível, apesar das minhas inúmeras limitações e fragilidades.
Qual é a maior felicidade que o senhor encontra no seu dia a dia como sacerdote?
Em primeiro lugar, a maior felicidade que encontro no ministério é poder celebrar todos os dias a Eucaristia. Celebro todos os dias às 6h30. É a primeira coisa que faço após acordar. Celebro com o povo de Deus. Esta é para mim a maior felicidade. Em segundo lugar, é quando me sinto “útil” na vida dos outros. Como é bom saber que, inúmeras vezes, Deus usa da minha pequenez para ajudar ou transformar a vida de alguém que precisa. Ver a alegria e a transformação de pessoas é para mim motivo de felicidade.
Sabemos que o sacerdócio tem também suas dificuldades e que muitos padres entram em depressão e cometem suicídio. Como encarar essas dificuldades?
Embora viver a vocação sacerdotal traga felicidade, não somos isentos dos problemas e das frustrações. Somos constantemente cobrados (de todos os lados). Muitos veem os padres como “super heróis”, e por isso devem ser perfeitos. Diante dessa pressão, cobrança e frustrações, muitos adocem e até mesmo chegam ao ponto mais crítico, que é o suicídio. Vemos atualmente um número crescente de padres que cometeram suicídio. Às vezes, chegam nesse ponto por falta de abertura e, muitas vezes, por falta de compreensão e ajuda daqueles que deveriam olhar com mais carinho.
As dificuldades são reais. E penso que para encará-las é preciso, em primeiro lugar, viver na oração. O padre não é funcionário do sagrado, ele é um vocacionado, vocação na qual quem chama é Cristo. Sem Jesus Cristo, sem uma intimidade com Ele não conseguimos ir adiante.
Em segundo lugar, é preciso cultivar a amizade. A amizade entre outros padres fortalece. Com os amigos choramos, desabafamos, sorrimos, partilhamos não só as alegrias, mas também as dores. Claro que a amizade não se dá apenas entres clérigos, mas nada melhor do que alguém que vive o que você vive para compreender as suas lutas, medos, tristezas e as alegrias.
E, em terceiro lugar, buscar uma ajuda profissional. Não é porque somos padres que não precisamos de ajuda psicológica. Pelo contrário, os padres que escutam tantas pessoas também precisam ser ouvidos. Temos nossas frustrações, sofrimentos, sentimentos e, sem dúvida, um terapia com um bom profissional contribui muito na vida do presbítero.
Qual conselho o senhor poderia dar aos profissionais das outras áreas, a fim de que possam encontrar a felicidade no trabalho?
O conselho que dou aos profissionais de outras áreas é que amem. Façam tudo por amor! Pois quando fazemos por amor e com amor buscamos não só a nossa felicidade, mas levamos os outros a experimentar essa mesma felicidade. E só somos felizes de verdade quando saímos de nós mesmos para ir ao encontro do outro. Só quem ama de verdade é capaz de fazer isso.