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Viktor Orbán e o Papa Francisco: uma relação paradoxal

Viktor Orbán e o Papa Francisco

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Camille Dalmas - publicado em 28/04/23
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Ao chegar a Budapeste nesta sexta-feira, 28 de abril, o Papa Francisco é recebido pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, com quem teve divergências no passado. A guerra na Ucrânia mudou as coisas.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, no poder desde 2010, é frequentemente apresentado pela mídia como a personificação de uma direita política “populista” e anti-imigração, constituindo, supostamente, a antítese das posições do Papa Francisco. Embora tenham trocado apertos de mãos em diversas ocasiões, inclusive durante uma audiência com chefes de estado e de governo da União Europeia em 2017, as relações entre o papa argentino e o primeiro-ministro húngaro há muito são descritas como frias.

O Papa Francisco foi a Budapeste em 12 de setembro de 2021, para o encerramento do Congresso Eucarístico Internacional — uma curta “escala” de algumas horas a caminho da Eslováquia. Nessa ocasião, ele minimizou o alcance do encontro com o chefe do governo, com quem se encontrou juntamente com o então presidente da República, János Áder. No voo de retorno da sua viagem pela Europa Central, porém, o Papa elogiou as políticas do governo húngaro em favor das famílias e contra o “inverno demográfico”.

A situação dos refugiados ucranianos e húngaros na Ucrânia

A segunda visita do Papa Francisco a Budapeste ocorre em um contexto diferente. Desta vez, Orbán está cara a cara com o Papa Francisco. Seu encontro mais recente foi no Vaticano, em 21 de abril de 2022. O papa então elogiou os esforços da Hungria para acolher os refugiados ucranianos que fugiam e ainda fogem da ofensiva russa.

O governo húngaro estima que o total de refugiados ucranianos em seu território já supera um milhão. É um número considerável para um país de apenas 10 milhões de habitantes. Ao se engajar nesse apoio humanitário, a Hungria também se distinguiu de seus aliados na União Europeia e na OTAN por se recusar a apoiar militarmente a Ucrânia e a cortar relações com a Rússia.

“Algumas pessoas acusam o nosso primeiro-ministro de ser escravo de Putin, mas isso é absolutamente falso”, afirma o embaixador húngaro junto à Santa Sé, Eduard Habsburg. Ele registra que a população húngara, marcada em particular pela repressão violenta que sofreu do comunismo soviético em 1956, não é russófila. No entanto, o governo tenta manter pontos de contato e de equilíbrio com Moscou para evitar uma conflagração geral na Europa. Nisto, a sua política se aproxima da do Papa Francisco.

A posição política de Viktor Orbán também está ligada a uma preocupação húngara específica. “Temos 150 mil falantes de húngaro na Ucrânia e estamos acompanhando de perto a situação”, explica o diplomata.

“O nacionalismo ucraniano se fortaleceu nos últimos anos e isso é assustador para a minoria húngara, que o nosso governo procura defender”, explica o jesuíta húngaro Zoltán Koronkai em entrevista ao I.MEDIA.

As políticas do governo ucraniano, de fato, causaram tensões com Budapeste durante a última década. “Desde 2014, a Ucrânia promulgou leis que limitam os direitos das minorias. Essas leis visam criar uma nação unida e deter os russos, mas isso também afeta os húngaros, porque há uma minoria húngara significativa na Transcarpática [oeste da Ucrânia]. O uso da língua húngara, por exemplo, tornou-se mais difícil nas escolas e nos locais públicos”, explica o jesuíta.

A Santa Sé está atenta a estas situações, que são pouco mencionadas na mídia internacional. Também compartilha preocupações com a Hungria em outros temas, como o apoio aos cristãos perseguidos no Oriente Médio ou a luta contra a “ideologia de gênero”.

Mas o primeiro-ministro não pretende instrumentalizar a presença do papa a serviço da sua própria agenda internacional. “Esta viagem papal será uma visita pastoral: rezaremos pela paz, mas não se trata de uma declaração conjunta do Papa Francisco e de Viktor Orbán sobre a Ucrânia, é claro”, garante o embaixador.

O pontífice argentino, que realizou numerosas viagens à Europa Central e aos Bálcãs (Eslováquia, Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia, Albânia, Bósnia, Grécia, Macedônia do Norte, Bulgária, Romênia etc.), dará continuidade, na Hungria, a essa trajetória de mostrar atenção a terras marcadas por feridas históricas.

Indo além da personalidade e da orientação política dos dirigentes destes países, ele pretende assim difundir a mensagem cristã entre os povos que sofrem tensões e contradições inevitáveis, e encorajá-los a deixar a porta aberta para a reconciliação e a paz.

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