Em seu terceiro dia na JMJ de Lisboa (2 de agosto), o Papa Francisco proferiu dois discursos (Encontro com centros de assistência e de caridade, Via Sacra). Veja as principais passagens destes dois discursos:
Encontro com centros de assistência e de caridade
Fazer juntos o bem
Primeiro, fazer juntos o bem. «Juntos» é a palavra-chave, que foi repetida muitas vezes nas intervenções. Viver, ajudar e amar juntos: jovens e adultos, sãos e doentes… juntos. O João disse-nos uma coisa importante: é preciso não se deixar «definir» pela doença, mas fazer dela parte viva do contributo que prestamos ao conjunto da comunidade. É verdade! Não devemos deixar-nos «definir» pela doença ou pelos problemas, porque não somos uma doença, não somos um problema. Cada um de nós é um presente, é um dom único, com os seus limites mas um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. E, assim como somos, enriquecemos o conjunto e deixamo-nos enriquecer pelo conjunto!
Agir no concreto
Segundo, agir no concreto. Também isto é importante. Como nos recordou o padre Francisco, inspirando-se em São João XXIII, a Igreja «não é um museu de arqueologia – alguns imaginam-na assim, mas não o é –; a Igreja é o antigo fontanário da aldeia que fornece água à geração de hoje» (São João XXIII, Homilia depois da Missa eslavo-bizantina, 13/XI/1960) como às futuras gerações. O fontanário serve para matar a sede das pessoas que chegam com o peso da viagem ou da vida, na sua dimensão concreta. Por conseguinte é necessária concretização, atenção ao «aqui e agora», como aliás já fazeis com o cuidado dos pormenores e sentido prático, belas virtudes típicas do povo português.
Lamentar-se
Quando não se perde tempo a lamentar-se da realidade, mas se tem a preocupação de ir ao encontro das carências concretas, com alegria e confiança na Providência, acontecem coisas maravilhosas. Assim o testemunha a vossa história: do encontro com o olhar de um idoso na rua, nasce um centro de caridade «de todo o respeito», como este em que nos encontramos; de um desafio moral e social qual é a «campanha pela vida», nasce uma associação que ajuda grávidas e sua família, crianças, adolescentes e jovens em dificuldade, para encontrarem um projeto de vida seguro, como nos contou Sandra; da experiência da doença nasce uma comunidade de apoio a quem luta contra o cancro, especialmente crianças, de modo que «os progressos no tratamento e a melhor qualidade de vida se tornem realidade para eles», como nos disse o João. Obrigado pelo que fazeis! Continuai com mansidão e gentileza a deixar-vos interpelar pela realidade, com as suas pobrezas antigas e novas, e a responder de forma concreta, com criatividade e coragem.
Compaixão
O terceiro aspeto: estar próximo dos mais frágeis. Todos somos frágeis e necessitados, mas o olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os prediletos de Deus que Se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9): os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus! E recordemo-nos sempre de não estabelecer diferenças entre eles; de facto, para um cristão, não há preferências face a quem, necessitado, bate à nossa porta: compatriotas ou estrangeiros, pertencentes a este ou àquele grupo, jovens ou idosos, simpáticos ou antipáticos...
Via Sacra
Jesus
Hoje, caminhareis com Jesus. Jesus é o Caminho e nós caminharemos com Ele, porque Ele caminha. Quando estava entre nós, Jesus caminhou: caminhou, curando os doentes, prestando assistência aos pobres, fazendo justiça; caminhou pregando, ensinando-nos. Jesus caminha, mas o caminho que temos mais gravado no nosso coração é o caminho do Calvário, o caminho da Cruz. E hoje vós, nós (eu também), rezando, seguiremos novamente o caminho da Cruz. Contemplaremos Jesus que passa e caminharemos com Ele. O caminho de Jesus é Deus que sai de Si mesmo; sai de Si mesmo para caminhar entre nós. É aquilo que ouvimos tantas vezes na Missa: «O Verbo fez-Se carne e caminhou entre nós». Lembrais-vos? O Verbo fez-Se homem e caminhou entre nós. E fá-lo por amor; faz isso por amor. E a Cruz que acompanha cada Jornada Mundial da Juventude é o ícone, é a figura deste caminho. A Cruz é o sentido maior do maior amor, daquele amor com que Jesus quer abraçar a nossa vida. A nossa? Sim! A tua vida, a daquele, a daqueloutro, a de cada um de nós. Jesus caminha por mim. Temos de o dizer a todos. Jesus empreende este caminho por mim, para dar a sua vida por mim. E ninguém tem maior amor de quem dá vida pelos seus amigos, daquele que dá a vida pelos outros. Não vos esqueçais disto: ninguém tem maior amor de quem dá a vida. Assim o ensinou Jesus. Por isso, quando contemplamos o Crucificado, naquela condição tão dolorosa, tão dura, vemos a beleza do Amor que dá a sua vida por cada um de nós.
Uma pessoa de grande fé dizia uma frase que me tocou muito: «Senhor, pela vossa inefável agonia, posso crer no amor». Sim, Senhor, pela vossa inefável agonia, posso crer no amor. E Jesus caminha, mas anela por qualquer coisa, espera a nossa companhia, aguarda o nosso olhar... Como hei de dizer? Espera abrir as janelas da minha alma, da tua alma, da alma de cada um de nós. Como são feias as almas fechadas, que semeiam dentro, sorriem dentro! Mas isto não tem sentido. Jesus caminha e espera com o seu amor, espera com a sua ternura, para nos dar consolação, enxugar as nossas lágrimas.
Chorar
Agora faço-vos uma pergunta, mas não deveis responder em voz alta; cada um responda dentro de si mesmo. Choro eu de vez em quando? Há coisas na vida que me fazem chorar? Todos nós na vida já choramos, e continuamos ainda a chorar. Nesses momentos, Jesus está connosco. Ele chora connosco, porque nos acompanha na obscuridade que nos faz chorar.
Com a sua ternura, Jesus enxuga as nossas lágrimas escondidas. Jesus espera cumular, com a sua proximidade, a nossa solidão. Como são tristes os momentos de solidão! Neles está Jesus, Ele quer preencher tal solidão. Jesus quer preencher o nosso medo, o teu medo, o meu medo… esses medos obscuros quer preenchê-los com a sua consolação. Ele espera impelir-nos a abraçar o risco de amar. Porque, como sabeis (sabei-lo melhor do que eu), amar é arriscado. É preciso correr o risco de amar. É um risco, mas vale a pena corrê-lo; nisso, acompanha-nos Jesus. Sempre nos acompanha, sempre caminha; durante a vida, sempre está junto de nós.